Vaidade





Sinto-me menos vaidosa, como se eu não soubesse mais das cores da maquiagem nem do charme que exala o perfume. Sinto que meus cabelos perderam considerável vitalidade, estão acinzentados como o céu dessa cidade que tem sorriso frouxo. Eles também estão caindo aos poucos, se perdendo entre meus lençóis ou uma penteada e outra. 

Sinto meus olhos cabisbaixos, como se estivessem procurando consolo em um chão de asfalto quente. Talvez estejam apenas descansando após buscas incansáveis: quem dera se algum olhar cruzasse com o meu da mesma forma que se cruzam os apaixonados. Quem dera se eu pudesse ao menos sentir essa sensação que dizem da tal reciprocidade, ao menos escrever sobre coisa que se valha de verdades. 

Mas tudo o que sinto não convém saber, ler ou dizer. Apenas sentir. E que meus sentimentos me levem a flutuar num mar de esperanças só meu, que a água me deixe imersa, imensa. Pertinente que sou, pedirei às profundezas que me devolvesse o que de fato nunca me pertenceu: a minha vaidade. 

Quero que minha boca seca sinta a destreza com a qual passo um batom, que meus cabelos dancem ao vento gelado e brusco, que meu sorriso venha sempre que puder, mas sempre. E esses serão os caminhos por que andarei, entre o vazio que em mim mora e a vaidade que, vez ou outra, há de me visitar. 

- Mariana Sanches Moraes

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