Flechada de Eros



O céu dividia duas cores quando a brisa fresca anunciava: era hora de voltar para casa. Sem mais prolongas, acenei educadamente para ele e segui caminhando pela orla de uma praia que semeava uma imensidão azul calma e uma infinidade de areia e conchas úmidas. Caminhei, honestamente, uns trinta passos hesitados e desses, vinte arrependidos. Os outros dez apenas desgostosos de estarem indo embora, mas já indiferentes. Meus olhos nem se deram o trabalho de convencer meu corpo a se virar, nada de olhar que para trás.

Uma grande estupidez ter horário para ir embora. Uma conversa não pode simplesmente acabar sem o clímax e um beijo não pode jamais ser interrompido ou acontecer às pressas. É hora de eu repensar esses passos que dou. Afinal, por que eu deveria voltar para casa? Depois das seis ainda é cedo, ainda é dia. E o que a noite tem que eu não tenho? Sou parte dela. Das tempestades também e até das estrelas que a enfeitam com regozijo.

Sou parte do escuro, filha da desobediência e parente distante da lucidez. Eu escolho dar meia volta, porque também pertenço agora ao mundo dos flechados por Eros. Confesso não conseguir resistir às amarras do amor. Com passos convictos, eu volto para ele. Sem o temor que eu costumava carregar no bolso da calça, eu decido me render. Não há céu que me faça mudar de ideia nem brisa que me leve para longe. Não mais. 

- Mariana Sanches Moraes 

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