Agora somos apenas dois estranhos



Eu sei que não temos mais nenhum assunto a tratar. As frases curtas e as demoras a responder já haviam me avisado. Na verdade, elas bem que insistiram, mas é que eu custo a acreditar que nos tornamos dois estranhos.
Uma parte de mim não entende os motivos pelos quais nós rompemos, e a outra parece aceitar qualquer convite para sair de casa, de qualquer pessoa. Nenhuma das partes está feliz e nem se distanciam muito uma da outra. Vai ver não tem explicação para o rompimento. Acredito que, de fato, as coisas acontecem por alguma razão, mas não devíamos esperar encontra-la. Sempre que me pego pensando em hipóteses para explicar o nosso término, viro de lado, tiro os fones e durmo. Às vezes eu demoro muito, e outras, com muita sorte, só levam duas horas até eu apagar.

Quanto à carência, prefiro me apegar àquela crença de que estou muito acostumada a dormir de conchinha para, de um dia pro outro, me ver com todo aquele espaço na cama. Até essa sensação de solidão ir embora leva um tempo. E talvez a dor se torne menos sensível à minha percepção quando estou com alguém. Ajuda a dar um tempo pra mente pensar em outras coisas, rir um pouco, esvaziar o coração. Pode não ser a melhor forma de te esquecer, mas está melhorando a minha forma de ver o passado.

Ainda é difícil considerar a realidade e, principalmente, aceita-la. Mas estamos indo. Caminhando para a felicidade por atalhos diferentes, ou correndo da tristeza e, honestamente, ainda acho que a gente se esbarra nesse trajeto. Uma semana, dois meses ou três anos, a verdade é que a cada dia que passa morre uma parte sua em mim e a dor vai ficando mais leve. Eu vou exercendo a educação que recebi te cumprimentando, perguntando sem muita afinidade sobre a sua vida, te dizendo que voltei às aulas de dança e que estou bem.

Somos dois estranhos com uma história juntos, mas essa é capítulo de uma página virada, daquelas que se lê até decorar e precisar de novas palavras. Agora somos apenas dois estranhos porque, de alguma forma, já fomos muito próximos um dia. 


- Mariana Sanches Moraes 

Comentários

  1. Perfeito... È assim mesmo que acontece sempre comigo .

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  2. sabe aquele nó na garganta? pois é...

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