A copa das manipulações
“A Copa chegou. A espera foi ansiosa e vangloriada pela grande maioria da massa populacional do Brasil varonil. A Copa está acontecendo aqui, em nossa casa. E é tudo tão lindo. Pessoas de diversas etnias, culturas, idiomas, religiões e gostos vieram com suas bandeiras na mão, um sorriso no rosto e o rosto pintado com as cores de suas respectivas pátrias”.
E é assim que a publicidade te manipula. Lendo esse trecho e assistindo às propagandas ufanistas é evidentemente fácil esquecer os monstros que imperam nosso país: corrupção, desigualdade, educação e saúde públicas deficientes, violência, desonestidade e por aí vai. Em tempos de Copa, é até exaustivo assistir televisão. É um amor à pátria, uma obsessão que chega a ser hipérbole essa relação com o futebol. Maior o exagero quando se trata de convencer o “gringo” de que o Brasil está em perfeitas condições políticas e sociais. Entretanto, as chances dos estrangeiros já terem sacado o lado negro desse espetáculo são boas. Pena que as chances do próprio brasileiro entender isso não são iguais.
Se engana quem pensa que as pessoas que participam de protestos e manifestações em busca de melhorias não são as mesmas que compram ingressos para os jogos da Copa do Mundo e que ficam uma partida sequer desantenada. Estamos num momento de contradição com nós mesmos: de um lado a hipocrisia e do outro o patriotismo. Fazemos aquilo que negamos fazer e ainda enaltecemos isso. É preciso perceber o que é verdade e o que é maquiagem. Eu, apesar da opinião contra, também sei que é difícil não se deixar levar pela emoção de um golaço do Neymar em um jogo decisivo. Sei que é compreensível contagiar-se com as diversas etnias, culturas, idiomas, religiões e gostos, que vieram com suas bandeiras na mão, um sorriso no rosto e o rosto pintado com as cores de suas respectivas pátrias. Além do mais, a publicidade tá aí apenas fazendo o seu trabalho e é do público o dever de enxergar de modo crítico e reflexivo.
A questão não é a Copa em si, mas o que a envolve e o que a construiu nesse ano, nesse país e nessas condições. É a situação que me incomoda na hora de torcer – parece que há um peso em minha consciência. E há quem diga o quanto é confuso estar a favor da seleção brasileira e contra o sistema do Brasil.
- Mariana Sanches Moraes
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