Amor e ódio ao virar da meia-noite
Você acorda, olha a menina do teu lado, que acorda com você. Ela sorri, te abraça, te beija. Conversam, se gostam, mostram seu afeto. A manhã está gostosa, perfeita para uma troca de carinhos, de olhares, de beijos. O clima esquenta, se tocam, se confiam. Transam. É delicioso, delirante, espasmos e orgasmos a todo momento. Mais um dia de uma relação entre um casal que está junto há algum tempo, que possui intimidade e amor.
O dia flui, você trabalha, ela também. Conversam, vivem, é o cotidiano. A noite, ambos na faculdade, estudam, se distraem nas mensagens, planejam o futuro, fantasiam tudo de bom que está por vir. Decidem ir tomar uma cerveja depois da aula no bar que fica a duas quadras da universidade. Mais uma noite normal antes de irem pra cama mais uma vez. Juntos, felizes. Eles bebem, bebem mais, bebem muito. Ele dá uma olhadela discreta pra bunda da morena malhada que passa ao lado de sua mesa, ela percebe, engole. Começa um pagode, saem dançar. Ela aceita o convite de Felipe, seu amigo gay, que a chama pra rebolar pelo salão do bar, ao lado das mesas de sinuca. Ele, o namorado, não se importa. Sabe que Felipe não oferece risco. Porém ela está magoada. Não perdoou o olhar maldoso de seu homem. Vai devolver, vai provocar.
Felipe, que não tem nada a ver com isso, se diverte com a amiga. Dançam, circulam pelo bar. São amigos há quatro anos, enquanto que o namoro dela dura apenas dois. Felipe decide brincar com ela. Desce a mão pra baixo da cintura, ela deixa, o namorado vê, e não gosta. Ela percebe o desconforto do namorado, se sente satisfeita, realizada, desejada, sorri. Felipe percebe o que se passa, decide continuar. Dá em sua amiga um sugestivo beijo no pescoço, correspondido com um sorriso malicioso. O namorado observa, não se controla, sente raiva.
Ela volta à mesa, ele não diz nada. Ela ri, elogia a dança do amigo: “Ele é demais! Não dançava assim faz tempo”. - Ele:”Vai pegar o Felipe também?” - Ela:”Ele é gay, poxa!” - começam a brigar. O álcool contribui para que os nervos se acirrem rápido. Falam coisas que se arrependeriam se estivesse sóbrios, mas falam, está dito. Ele joga na cara dela sobre os flertes que a namorada trocou com o carioca que conheceu no serviço. Já ela lembra da ocasião em que o namorado passou a noite bebendo e conversando com uma bela loira, amiga da família, em um churrasco com os amigos.
Decidem terminar abruptamente. Não suportam a tensão das trocas de ofensas e acusações. Ele vai dormir com um amigo. Bebem e fumam até as seis da manhã. Ela volta pra sua casa, chora, rasga fotos e cartas. Mas ambos sentem uma raiva recíproca. Não querem diálogo, não querem beijo, não querem carinho. Sim, o casal que se amava loucamente em uma manhã amena agora não suportaria estar a menos de cinco metros de distância. Casos como este acontecem cotidianamente com milhares de casais, héteros e homos, humanos.
O ser humano é egoísta e, em muitos casos, mesquinho. A falha do outro é imperdoável, a própria, normal. O amor é, em alguma medida, humano. Ele é também egoísta e mesquinho. Quem ama, quer só pra si, e quer sem erros. A raiva típica de finais de relacionamento é fruto da parte negativa do amor, que não perdoa, que cria aversão e repulsa. O amor alimenta o ódio. “Se não vai ser meu, então que se dane”, pensam ambos depois de terminar. Se voltarão ou não, a balança de seus amores, ódios, egoísmos e mesquinharias decidirá. Até lá, ambos continuam querendo ver o outro pelas costas. Esse é o amor, esse é o ser humano.
Comentários
Postar um comentário