Os vestígios de uma ditadura


Leia ao som de "Para não dizer que eu não falei das flores", de Geraldo Vandré.

Pra não dizer que não falei das flores, esse ano a ditadura militar do Brasil completou 50 anos no dia 31 de março. Pelas ruas marchando indecisos cordões, com medo e coragem ao mesmo tempo. Para muitos, ruim. Para uns, bom. Para outros, necessário. Porém, todos com uma certeza na frente e uma história na mão.

Diante do aniversário de uma ditadura sombria, repressiva, amarga e cruel, é possível dizer que ela completamente acabou? Em um momento bipolar da história e em uma crise política num país capitalista, a ditadura veio para o que seria o estopim de um confronto. E o Jango mal sabia – ou sabia – das proporções que aquele comício sobre as Reformas de Base, que ele tanto defendia, tomara. Talvez, ele não imaginasse que isso se transformaria na revolta da elite e de burgueses. E até dos Estados Unidos. O medo de um golpe comunista assombrava a esses que, de certa forma – ou da pior forma -, resolveram reagir. Ação e reação, meus caros.

Não demorou muito para o regime militar ser implantado no Brasil e o então presidente João Goulart ser destituído. O brasileiro – pobre, rico, médio – acordou com os olhos para um novo governo, uma nova vida, um novo país. Desapontados, aflitos ou aliviados, uns optaram por seguir e outros, por protestar. E sim, o regime militar acabou oficialmente em 1988, mas, implicitamente – ou não – , deixou vestígios para uma redemocratização não tão democrática.

O país herdou da ditadura a soberania do governo e, querendo ou não, a intervenção dos militares na política. No Brasil, ainda impera o sistema ditatorial às escuras, oculto e despercebido pelo povo. Leis daquela época continuam vigorando, como o Estatuto do Estrangeiro, que nega direitos políticos aos estrangeiros. Resquícios dos impostos à la regime militar estão presentes no nosso cotidiano e, também, algumas práticas policiais, que destroem valores e direitos, como há 50 anos.

É possível, talvez, dizer que o Brasil não acabou com a ditadura e sim maquiou a cara do país, mascarou um rosto pobre de valores morais, verdade e justiça. Exatamente igual eles estão fazendo para receber a Copa do Mundo, querendo mostrar um Brasil idealizado, porém não realizado. Ou “a Copa das copas”, como “ironizou” Dilma. Faz sentido dizer, também, que não existe democracia de modo geral. O que existe é a falsa ideia de liberdade de expressão. Mas, pense pelo lado bom: na ditadura não existia nem isso.


- Mariana Sanches Moraes 

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