Para ser feliz sem motivo




"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade." Disse uma vez, o célebre Carlos Drummond de Andrade e, quase 30 anos após sua morte, essa frase ainda mantém seu legítimo significado intacto. Sim, mesmo com tantas mudanças históricas, sociológicas, tecnológicas e comportamentais, o poeta continua fazendo jus ao que ele se refere como felicidade. Eu havia dito que escreveria sobre tal quando fiz uma crônica sobre liberdade e aqui estou eu, cumprindo minha palavra. Como todo indivíduo suscetível a mudar de opinião, eu mudei um pouco a minha em relação à felicidade. Aliás, acredito que, na maioria das vezes, permanecer sempre com a mesma opinião pode ser sinônimo de uma não evolução/amadurecimento. Reflexões aleatórias à parte, vamos para o que interessa.

Primeiramente, eu gostaria que você pensasse, por um instante, o que te deixaria feliz agora, nesse exato momento. Pronto? Deixe-me arriscar alguns palpites: um dia numa praia paradisíaca, poder estar perto de quem você ama, ser promovido e por aí vai. Percebeu que, dos exemplos que dei, todos são momentos? São passageiros e essa é a palavra-chave: efemeridade. E o que te faz querer ser feliz é a plenitude de ser. Mas, se você for parar para pensar, seria um tanto quanto chato ser feliz além de impossível, pois para a felicidade existir completamente, o universo teria que ter outro parâmetro. Ou será que depois de uma traição você continuaria sorrindo por aí? Não, pois então. O ponto está justamente na felicidade como emoção. Ela faz parte do nosso cotidiano sem que nem percebamos.

Agora, enfatizando a frase de Drummond nesse contexto, ser feliz sem motivo é o que te torna feliz porque, definitivamente, você não precisa de um. A felicidade está na incapacidade de percepção dela mesma. Afinal, todo dia tem momentos que te deixam esboçando um sorriso de orelha a orelha, nem que seja naquele seu pior dia, no qual tudo deu errado, mas ao final dele você tem a oportunidade de saborear uma pizza. E, para uns que pensam que dinheiro traz felicidade, eu corrijo: o nome disso é satisfação, poder, alegria, qualquer coisa menos felicidade. Esta é totalmente desprovida de dinheiro e conduta, já que, nas memórias mais marcantes e felizes da sua vida, existe apenas a banalidade e singeleza as acompanhando.

Para que fique comprovada a minha tese, peço-lhe que me diga quais foram os momentos mais felizes da sua vida. Se neles o dinheiro estiver incluído, afirmo-lhe, com toda a certeza, de que apesar das regalias, esse não era o real motivo da sua felicidade, pois, aliás, não deveria nem ter uma razão. Confesso que mudei um pouco meu conceito sobre essa complexa e descabida emoção de bem-estar, uma vez que confirmo a plenitude dela de acordo com Vinícius de Moraes, afinal, a felicidade está, não é. E se for, que seja infinita enquanto dure.


- Mariana Sanches Moraes

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