Se tanto faz, então não faça




Odeio pudim. Odeio Maria Mole. Mas odeio ainda mais pudim de Maria Mole. Odeio esperar. Nem que sejam míseros cinco minutos. Odeio gente com cara feia. Cara feia para mim é fome. E ainda: odeio qualquer número entre 8 e 80. Ou seja, eu odeio essa história de tanto faz, de incertezas, de indecisões. Com certeza muito mais que o pudim de maria mole.

Eu podia ter começado esse texto de qualquer outra forma, sobre qualquer outro assunto, mas a hesitação me deixou confusa sobre o que escrever. Então, decidi escrever sobre ela e as suas amiguinhas: a ”incerteza” e a ”tanto faz”. Decidi isso porque, falando de indecisão, eu sei que são poucas as coisas piores do que você não saber o que quer, o quer fazer, o que dizer em alguns momentos. Ou em todos né, vai saber. Ás vezes essa adversidade aparece até mesmo num jantar com o ”Ricardão” da academia que você sente tanto tesão: você precisa decidir se vai dar ou não. E durante a noite essa é a única pergunta que você faz para si mesma. É inegável que você quer aquele corpo suado e sarado em cima de você, te fazendo delirar com cada entrada e saída. Mas e se ele não ligar depois? Eu diria: foda-se. Se você fez o que queria, na hora em que queria e com quem queria, que mal tem? Eu, porém, não posso decidir isso (nem nada) por ninguém e você tem embutido na cabeça o perfil de garota certa que eles querem para namorar - a que não transa no primeiro encontro.

Será que você tomou a decisão certa? Será que você devia ter esperado? Ou será que tanto faz? Não! Tanto faz não. Tanto faz é o que aquela namorada do seu irmão sempre diz para ele quando a pergunta: Amor, onde você quer ir? E ela responde com uma voz meiga e aguda: Tanto faz, amor, você quem sabe. Essa é a mesma mulher que na hora do sexo dificilmente varia nas posições, nos gemidos, nas sacanagens - é quase a mesma coisa que nada. É como se ninguém a percebesse porque ela simplesmente não tem opinião sobre nada. É difícil conviver com pessoas assim. É como se elas fossem um fantoche que você movimenta para não passarem despercebidas pelos outros. E mais difícil que isso é conviver com a incerteza. Ah, essa ganha a minha atenção especial por apresentar como uma das suas principais características a aflição. Eu - e acho que não estou sozinha - praticamente ando de mãos dadas com a tal da dúvida. Seja ela desde a mais banal, como não saber o que fazer no almoço, até a mais angustiante, como não saber se passou num concurso - e realmente aflitiva, porque eu odeio esperar.

Mas eu ainda acho que, mesmo odiando pudim de maria mole, gente atrasada e gente com cara feia, os piores de todas essas situações são os números 9, 10, 11, 12… 77, 78 e 79. Ou é 8, ou é 80. Nada de ”tanto faz”, ”como vier tá bom”, ”pra mim é indiferente”, ”você quem sabe”. Eu gosto de gente que vai direto ao ponto - só que nem sempre. Gosto de gente que diz se é sim ou se é não, não de gente que diz que vai pensar e que depois me avisa. Não há tempo a perder com gente que deixa as coisas acontecerem quando vierem, porque simplesmente existe uma maneira melhor de elas chegarem e, com certeza, não é dizendo que tanto faz.


- Mariana Sanches Moraes 

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