Um recado para os homens que choram



O homem chega ao bar, com os olhos um pouco inchados – uma suspeita de choro. Seus amigos, preocupados, perguntam a ele o motivo e, tranquilamente, o homem responde: “Ah, sabe aquele filme com o Mel Gibson, “O Coraçao Valente”? Me emocionou.” Risadas, risadas e mais risadas. “Chorou com um filme, mulherzinha?”. “Nossa, que gay”. “Vai dar a bundinha agora também, é?” Não, João Pedro, seu amigo não vai dar a bundinha porque se emocionou com um filme – um grande filme, aliás. Ele também não é “mulherzinha” nem gay por isso. E eu poderia ter citado outro filme mais apelativo como “Titanic” que o contexto não muda. Mas vou dizer duas coisas que promovem esses tipos de comentário: estereótipo e p-r-e-c-o-n-c-e-i-t-o.

A maioria das pessoas é enganada pela própria mente. Acontece com quem pensa que sensibilidade é uma característica adquirida somente em mulheres e gays. Mas o problema é que, na verdade, eles a encaram como um estereótipo e isso é errôneo. Aliás, de todas as formas está errado, porque sensibilidade é um aspecto humano – e olha só, isso inclui os homens. A única diferença é que uns são mais tendentes a cair aos prantos e outros não. É um absurdo estereotipar mulheres como frágeis e sensíveis e homens como firmes e brutos. E ai daquele que OUSAR ser delicado, vaidoso ou carinhoso. É gay.

Outro equívoco é a definição de gay como uma ofensa. Qualquer coisa é “bicha”, “viado”, “florzinha”, “frutinha” e não termino mais o texto se for citar todos. É tão comum que chega a ser inconsciente e é aqui que o preconceito entra, avassalador, – com todo o seu ímpeto e amor eterno aos nossos pobres corações que se deixam contaminar por esse tipo de crueldade. O preconceito é algo enraizado, seja pela religião ou cultura. Ou pelo excesso de ignorância. Um exemplo disso foi um texto de Hélio Schwartsman, no qual ele usa o termo “homossexualismo” ao invés de “homossexualidade”. O escritor teve que explicar, após criticas de que o sufixo “ismo” tem significado patológico, que não havia variação de sentido nas palavras.

Homens que são heterossexuais não precisam mostrar o quão são machos e não deviam avacalhar do cara que curte outro cara. Essa autoafirmação é pretensiosa, imodesta, desnecessária. O João Pedro é, ou parece ser, um exemplo disso. Afinal, se você se importa tanto em ficar mostrando toda a sua masculinidade para os outros, é porque talvez não tenha tanta segurança disso. Para os homens que choram, meu é recado é simples: continue. Chore mesmo, faça mesmo, diga mesmo porque dá pra continuar sendo homem mesmo assim e é lindo. E lembre-se: se você é sensível, você é humano. Agora, se você é sensível e não esconde isso, você é homem.


- Mariana Sanches Moraes 

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