Como é bom voltar
Sabe, pai, eu devia ter feito o seu café todas as manhãs, enquanto você se arrumava para ir trabalhar. Eu sei o quanto isso te pouparia algum tempo, mesmo que de cinco minutos. É que a madrugada me segurava e às 7 eu estava com uma preguiça maior que meu corpo. E mãe, eu devia ter te escutado mais quando você me dizia que ele não prestava. Ah, como eu devia. É que a gente quando é jovem tem essa mania de saber tudo sem entender nada. Eu acredito que não mudei e que nossas ideias continuam se confrontando, mas a minha certeza mais virtuosa era saber que, mesmo depois de um final de semana de farra, eu iria voltar pra casa.
Não me incomoda perceber que sair de casa foi bom, que deixar as coisas caminharem comigo pela primeira vez sem a supervisão de vocês foi essencial e que, agora, sou inteiramente responsabilidade minha. Não me magoa, também, entender que sacrifícios são necessários e o maior deles foi deixar o meu quarto desocupado e os seus corações dilacerados. Isso porque fui muito bem instruída para a vida e para todas essas difíceis situações que nos deparamos. O problema é que me sinto distante e culpada. Eu queria poder dizer que sinto muito por morar tão longe e por não visitar lhes sempre que devo. Sinto tanto pelas vezes em que eu estava mais concentrada no celular do que em nossas conversas, afastando quem está perto e aproximando quem está longe. Mas a tendência é sempre a de acelerar e tudo passa tão rápido. Me dá medo piscar os olhos e vocês escaparem das minhas mãos, partirem para fora do meu alcance.
Eu só quero poder voltar pra casa de novo e para vocês, sempre. Porque, apesar de já adulta, ainda sou uma criança que quer abrigo nas horas difíceis. Eu não conseguiria imaginar um segundo do que eu sou sem a proteção que vocês me envolvem. Devo dizer que aprendi muito com os seus sermões e o que eu fiz questão de não ouvir, a vida me ensinou amargamente. É por isso que dou valor a cada palavra hoje. Só não entendo porquê demoramos tanto tempo para compreender algumas coisas. Infelizmente, eu aprendi o que vocês tentaram me mostrar por anos só quando não estavam mais lá para me fazerem ver que eu estava errada. Mas talvez eu ainda continue errando, errando e errando mais um pouco, só para poder ouvir só mais uma vez vocês dizerem: "Eu avisei, não avisei?".
- Mariana Sanches Moraes
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