Estante de amar
Na estante de amar, você esqueceu os seus livros de poesia e aventura. Você também deixou sua camisa pendurada no cabide da porta, exalando o perfume pela casa toda, como um contágio de fragrância suave e inquieta. Não há nada que comprove que você já foi embora, além do adeus mal dado. Mas disso só eu sei. Você saiu de fininho, pelas portas do fundo, bem de manhãzinha, sem deixar rastros do que você foi um dia e do que fomos por algum tempo.
E eu, sem medo nenhum, digo que hoje você ainda habita em mim, num abstrato de ideias mesmo que sem pretensões e que, com certeza, estou muito bem assim. Antes era complicado, eu não entendia porque não era madura o suficiente para enxergar que o que eu sentia era amor. Paixão não era. Paixão é avassaladora, te tira do sério, te arrepia o pescoço, te excita o toque, te tira do chão. Mas o amor, ele é mais, te desacelera, te cativa o fundo da alma, te prende, te enaltece o afeto, te prova que dois pés no chão é demais e que um só basta. Paixão é para gente com o coração forte, que aguenta idas e vindas em curtos períodos. Já o amor é equilíbrio e se adquire com o tempo, com a convivência. É a certeza, a segurança, o abrigo e o mais importante: a eternidade.
Talvez um dia, eu consiga te esquecer. Mas o nosso amor eu vou levar comigo para sempre e sei que você também vai. E que mesmo com o tempo, um móvel nessa casa continuará intacto: afinal, na estante de amar, você deixou o seu amor para nunca mais buscar.
- Mariana Sanches Moraes
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