Pelo direito de broxar

Não, não é um homem escrevendo. Nem um travesti e eu também não tenho um pênis. Sou eu a mulher que escreve todos os outros textos e a que, inclusive, também broxa.

É gozado - olha que gozado escrever "gozado" neste contexto - ouvir as mulheres dizendo que se sentem mal depois que o homem broxa. Concordo que dá um desconforto, uma insegurança e, de repente, perguntas sem respostas sobre o seu corpo e a sua atitude - ou a falta dela - na cama se multiplicam. Mas essa preocupação é quase em vão quando você coloca na mesa outras possibilidades como cansaço e nervosismo. Isso é completamente entendível - quando não acontece sempre. Outra coisa que você deve lembrar é que a natureza nos concedeu um músculo essencial para uma bela preliminar e um grande plano B: a língua. Então, eu te dou a solução para o seu problema e você me dá a chance de tentar de novo porque eu sei que você nem notou, mas eu broxei.

Sinto em contestar que, embora o feminismo tenha sua cara a mostrar, cada vez mais evidente e respeitada - gosto de acreditar nisso -, se uma mulher renunciar a uma transa, por mais carnal, gostosa, selvagem que seja, é tida como "fazedora de doce". Por outro lado, alguns insistem em sustentar, mesmo que sem fundamento ou força, o argumento de que "tudo bem, as mulheres gostam menos de sexo do que os homens". Agora, você, sexo feminino, forte, rico em desejo, prazer, fogo, leia a frase que antecede novamente. Custo a crer que ela te faz consentir.

É claro que, num contexto histórico, de fato o homem sempre teve liberdade para expressar e anunciar o sexo que queria ter, enquanto a mulher era uma espécie de objeto inanimado. Devo lhe tornar fresca a memória, porém, e dizer que existe apenas um motivo para o "sexo frágil" sentir tanto - ou mais - prazer do que os "cabras machos": o clitóris. Já ouviu falar? Se não, a razão pela qual a Carol não retornou a sua ligação deve agora estar bem clara. Sei, também, que menosprezar a glande seria erro fatal, já que este tem o maravilhoso intuito de levar os homens às alturas.

Apesar das minhas contestações tendendo à outro assunto, gostaria de, aqui, manifestar o meu e o seu direito de broxar. Por uma mulher sem higiene, por um cara mal cheiroso, por uma cena constrangedora, por um deboche, por uma cueca estilo sunga, por uma calcinha bege ou da Capricho, pela falta de química ou excesso de nervosismo. Qualquer motivo é motivo para não querer transar. Simples assim. Tenho a impressão de que essa obsessão por uma performance perfeita na cama está apagando à borracha o que mais nos faz humanos: a falha. E se acontecer - porque vai -, relaxe e reze para que o seu companheiro de prazeres imensuráveis entenda. Se for comigo, por exemplo, fique tranquilo. Só não fale que "isso nunca tinha acontecido antes" porque aí sim você estragou tudo. E ah, não se esqueça que existe sempre um plano B.


- Mariana Sanches Moraes