A top model da cracolândia



Aos desinformados de plantão, trago lhes a notícia bombástica da semana: Loemy Marques chegou no auge de sua decadência após ser vista comumente à outros usuários na cracolândia. A então modelo se perdeu em meio às drogas há dois anos. Resultado de uma visita a ela? Espanto. E, como tenho dito - não aqui, mas entre amigos -, a Veja não deixou escapar a oportunidade para uma capa. Aliás, nunca deixa.

Mas a revista é muito da esperta. A repercussão da notícia de que uma ex-modelo foi encontrada em estado deplorável, andando de um lado para outro à procura de droga, foi imediata. Não pela circunstância, mas pela particularidade dos fatos. Uma loira,branca - importante exaltar -, alta e com um futuro promissor nas passarelas cai na tentação do crack - assim como tantas outras que tentam sua vida na Grande São Paulo e são apresentadas ao mundo traiçoeiro das celebridades. Perde peso, no entanto não pela exigência da profissão que seguia, e sim pelos percalços do caminho que trilhava.

Uma vida praticamente inteira perdida, visto que são contáveis os números de pessoas que conseguem vencer o vício do crack. Só que é uma vida inteira perdida para a Maria, que está naquela região imunda há oito anos. Para o Tiago que, por causa de uma primeira vez, não conseguiu mais se desvincular do uso. E para a vida de tantas outras milhares de pessoas que são apresentadas ao lixão que é a cracolândia. Não somente a ex-modelo, mas milhares de pessoas. É claro, para os moradores, a rotina lá se torna suportável, já que eles estão em um mundo desconexo da realidade a maior parte do tempo.

De fato, não é difícil entender o porquê da notícia ter se espalhado de modo gradativo. Difícil é compreender o motivo pelo qual achamos que pessoas da alta sociedade, da fama e do poder não podem descer as escadas da vida e subir no alfabeto das classes. E o crack acaba com qualquer um: rouba seu dinheiro, sequestra sua integridade e te joga na rua. Tudo isso acontece sem você nem perceber. Foi assim com Loemy. A fama dela, infelizmente, não foi estrelando campanhas de lingerie.

Houve a tentativa de interna-la, ressuscita-la, salva-la. Mas a questão é: por que houve esse interesse? Acredito que vai além da mal dita solidariedade. A mal expressada forma de solidariedade que resgata, coincidentemente, a top model da cracolândia. Sei lá, só penso que somos um tanto unilaterais enquanto a isso. Por que um viciado desconhecido e sem estudo é invisível e posto à margem social quando temos engenheiros e advogados na mesma situação? Mas aí sentimos dó. Porque "são pessoas estudadas, são respeitados, não tem cabimento se viciarem, não têm influências". Ok. E no fim, Loemy deixa o mundo dos inescrupulosos e aceita passar por reabilitação. A ajuda foi concebida pelo apresentador promissor da década: Rodrigo Faro. Estou até vendo a comparação de espectadores/ leitores de seu programa com a revista Veja.


- Mariana Sanches Moraes 

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