Eduque seu filho para o mundo - caso contrário, não tenha um
Ontem, eu fui com a minha irmã ao shopping center. Como ela tem apenas dois anos e, bem, não temos muito o que conversar, resolvi deixar ela num parquinho, ali mesmo, dentro da loja. Laís é muito pequena ainda, não sabe construir frases e, quem dirá, se defender sozinha. Portanto, eu tive de cuidar dela enquanto ela se admirava com os brinquedos. Mal sabia qual iria ser o primeiro a explorar. Muita novidade para uma cabecinha só. Mesmo assim, ela foi sensata ao ir em direção a um videogame. Haviam quatro telas de computador ligados aos PlayStation's, mas apenas dois estavam disponíveis, sendo o primeiro um jogo com um homenzinho azul como personagem e, o segundo, com uma espécie de fada rosa.
A minha irmã, tão inocente quanto prática, resolveu "jogar" no do homenzinho. O meio segundo que ela brincou ali foi suficiente para um garoto de cinco ou seis anos chegar e dizer: -"Ei! Ela tem que brincar no da fadinha rosa. Esse é de menino, não pode!". Eu poderia ter ficado ali, parada, somente com meu olhar fixo naquela criança e, tendo como fruto da minha imaginação uma cena na qual seus pais o ensinaram aquele absurdo. Queria eu. No entanto, tive de dizer que não havia problema algum em Laís jogar com o bonequinho azul e não com a borboletinha rosa. Porque, de verdade, existe alguma mera diferença? Me diga o quanto quiser e tente me convencer a todo custo ou a qualquer preço, mas essa separação de identidade de gênero não faz o menor sentido. E nunca fez.
Obviamente que, como não sou absolutamente ninguém para julgar a educação que os pais dão à seus filhos, eu não levantei a voz. Apenas o quis mostrar que não era bem daquele jeito. Seria bom demais se minha irmãzinha só se deparasse com pessoas assim, pois seria somente um problema. Mas a diversão dela literalmente não passou de sua solitária companhia. Muito embora estivessem uma dúzia de crianças no parquinho, todas a ignoraram. Não estou vitimizando-a, a questão é que os maiores não dão moral para os menores. E ela era a mais nova de lá.
Em uma oportunidade efêmera, Laís consegue algumas panelinhas e frutinhas de plástico para brincar. Logo, surge uma garotinha - mimada - e tira da mão da minha irmã os brinquedos. Eu, numa atitude civilizada, pedi para que ela os devolvesse. Tentativa frustrada. A garotinha não queria de jeito algum dividir as "parafernalhazinhas" com ela. Eis que, no instante em que eu ia chamar a "tia", uma amiga da Srta.Egoísmo devolveu as para Laís. Eu não sei se eu coloquei medo naquela criança, ou se ela realmente estava escolhendo muito mal suas amizades, mas consegui perceber a importância que a educação materna e paternal - ou de responsáveis - tem.
Naquele ambiente infantil, com princesas e palhaços estampados nas paredes, piscinas de bolinhas, escorregadores e PlayStation, eu pude observar crianças preconceituosas e egoístas. Tão pequenas. É uma pena. Ás vezes, me parece que os pais esquecem que a infância é a base para a construção do caráter individual. Quero dizer, como serão essas os adultos de amanhã? Pessoas mesquinhas, com ante-olhos, que só saberão olhar pra frente e nunca para os lados, agindo com a cabeça dura com que foram ensinados a crescer.
Claro que eu estou longe de ser uma utopia de mãe, mas acredito que educar um filho não confere basear a educação dele nas experiências e posições dos pais. Vai além disso: um filho deve ser criado para o mundo. Não adianta. Você vai ter que dizer a ele que homem com homem, mulher com mulher, homem-mulher e mulher-homem é normal, que ele corre o risco de sofrer bullying - mas que você o ajudará a combatê-lo -, que ele vai conviver com pessoas individualistas, perigosas, invejosas, enfim, que ele vai ter que encarar a vida dura porque é assim que ela é. Se você esconder dele essas algumas verdades, não se preocupe: ele vai descobrir, só que de uma forma pior.
Eu espero que a Laís siga alguns exemplos meus. Pelo menos, os melhores. Quero que ela caia, rale o joelho, o coração, mas que se levante e erga a cabeça. Não tem como ser diferente. Afinal, ela é uma garotinha de muita personalidade. Engano seu se você pensa que ela não quis se enturmar com as outras crianças, ela tentou. Entretanto, acabou juntando panelinhas do chão, colocando-as no fogãozinho e usando apenas a imaginação como sua parceira. E, honestamente, se for pra ela ter amizade com esses tipos de pessoas, prefiro que ela fique sozinha.
- Mariana Sanches Moraes
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