Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante



Não me importa esquecer o sutiã na cabeceira da sua cama, nem se você for me devolver semana que vem. Não me importa o sol no rosto, que a uns incomodam, desde que eu o sinta, quente. Não me importa se amanhã chove forte ou apenas garoa. Não quero que pequenos detalhes malquistos me embacem a vista do lado bom de todas as coisas. Mas, se caso eu não puder evitar, que seja por uma boa razão. E mudar é uma ótima.

Mudanças são inevitáveis. As boas são gostosas, já as ruins, difíceis de acostumar. Mas gosto de pensar que ela vai muito além de mudar de lugar, de namorado, de emprego, de posição. Mexer os palitinhos ou mover montanhas transformam a consciência de quem as faz. Isso vai contra todas as regras dos que seguem o comodismo, que mata você por dentro sem te fazer sentir. Se a rotina não te enfada mais e o seus dias seguem um padrão, comece a se preocupar. Tudo bem se sua vida poderia ser melhor do que assistir seriados e beber cerveja todo final de semana - apenas um exemplo. O problema é quando você sabe disso. Mude. Não dói. Nem que seja a poltrona da sala, que fica encostada na janela, impedindo você de abrir a cortina. Detalhes malquistos vem a tona e precisam ser evitados, mas detalhes oportunos podem fazer o seu dia mudar. Ou até a sua percepção de mundo.

Me identifico com pessoas que gostam e desgostam ao mesmo tempo, de todas as coisas. Pessoas que não têm medo do novo, do diferente, do arriscado. São essas que dão sentido à vida que têm. Que, não apenas existem, mas também vivem. Insisto na ideia de que viajar renova a alma, amplia os horizontes, quebra tabus, revela outros. Pegue a estrada, leve somente o que for necessário. O resto você encontra pelo caminho. Saia de casa, conheça outras culturas, outras gentes e, assim, se descubra. Porque, é contraditório, mas a verdade é que sempre estamos indo pra casa, encontrando nosso canto nesse mundo, para um perfeito encaixe. Não tema em mudar de opinião, de estilo, de corte de cabelo, de preferências. Afinal, estamos em busca de quem somos.

Por outro lado, mudar exige renúncias. Esteja apto(a) a consentir com isso e aceitar o fim, seja do que for. Acredite em mim, não vale a pena se queixar nem se culpar. Se perdoe e perdoe os outros. Talvez, antes eu me importasse em esquecer o sutiã na cabeceira da sua cama, mas acabei me renunciando de uma vida que me prendia à materialidade e à minúcias. Hoje, eu sento, delicio-me com uma feijoada e, se me perguntarem o porquê de eu estar comendo feijão preto depois de ontem ter dito que não gostava, eu respondo, com a certeza de quem muda: É que eu sou essa metamorfose ambulante.


- Mariana Sanches Moraes 

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