Se dê mais valor, mulher

Um minuto para sua distração ao olhar esse belo par de seios.

Num olhar de relance no feed de notícias do Facebook, uma postagem de um garoto - que eu nunca vi, assim como os outros 700 amigos em meu perfil - me chamou atenção em particular. A imagem dizia:"Tá faltando mulher que se dê valor, que cubra os peitos e mostre o coração, que exercite o cérebro e não a bunda, que saia a noite pra se divertir não caçar, que se ame e que não se venda por um camarote". Achei curioso, pois, me fez refletir mais uma vez sobre o quão somos agarrados aos costumes patriarcais.

Expondo o que eu tenho em vista como uma mulher de valor, diria que eu me dou valor. Não quero te surpreender com meu número de amantes, nem te convencer de que meus peitos não cobertos não definem meu caráter, minha personalidade, meus instintos eróticos ou minha inocência - ainda tenho, acredite. Apenas quero que seja um indivíduo racional e que, assim como - segundo a frase - tá faltando mulher que faça bom uso de seus neurônios, você pense. Vamos, não é difícil.

Primeiramente, vou desmistificar o significado do "valor" que, segundo o machismo, as mulheres têm. É muito simples: a ideia de valor provém da legitimidade e da essência da pessoa, não dos comportamentos individuais, ou seja, particulares da mesma. Eu diria que eu me dou valor, pois reconheço as milhares de qualidades que eu tenho, pois não sofro por coisas ou por alguém que não valem a pena, pois eu me dou o devido respeito que mereço. E isso não tem necessariamente a ver com não deixar o cara pegar na minha bunda, tocar meus peitos ou me xingar na cama. Sem problemas se eu quiser, se eu o permitir faze-los. Mas, principalmente, me dou valor pois sei que isso não tem alguma relação lógica com meus sexos casuais.

A diferença é bem clara. Bom, a não ser que você tenha uma infeliz tendência a concordar com o garoto do meu Facebook. De qualquer forma, já ouvi uma amiga minha me dizer que eu deveria me dar mais valor. Talvez por ser este livro aberto, no qual eu permito às pessoas me lerem, analisarem e criticarem. Eu dou essa brecha pois não tenho nada a dever. Minhas contas estão pagas há muito tempo e meu legado é a minha liberdade. Vejo isso em poucas pessoas. Gostaria que fosse diferente.

Toda essa discussão de valores femininos me fez lembrar do estadunidense que dá palestras nas quais ensina homens a conquistar mulheres, Julien Blanc. Para quem passou uma temporada em Marte, o indivíduo citado teve sua entrada proibida no país graças a uma petição assinada por milhares de brasileiros. Ainda bem. Em relação a isso, parto de dois princípios opinativos: é uma ofensa para as mulheres esse tipo de recurso, pois agride o nosso gênero já oprimido e incentiva a cultura do estupro. Sim, você leu certo, pois não me diga que você acha que estupro só acontece em becos. No caso das aulas de Blanc, ocorre em baladas com mulheres bêbadas e drogadas, vulneráveis a qualquer tipo de abuso. O segundo princípio é que, honestamente, palestras sobre como conquistar alguém? Acredito que cada conquista tem sua singularidade, não existem táticas. Não somos produtos, caramba.

É complicado abordar todas as temáticas que esse assunto engloba, mas se você conseguiu entender que minha performance num baile funk não tem absolutamente alguma correlação com os meus valores, já está a frente de muito babaca. Porque a verdade é que não está faltando mulher que se preze, e sim homem que entenda que é possível mostrar o peito e o coração ao mesmo tempo, ser inteligente e rebolar a bunda, sair a noite para beber, dançar, beijar e transar e se amar. Enquanto às mulheres que se "vendem" pra camarote, não defenderei vocês: a sociedade já faz da sua beleza um capital, então não colabore com isso. De resto, está liberado, mulheres. A única coisa que te prende é uma maioria massiva e ignorante. Então, ignore-a.


- Mariana Sanches Moraes