Somos todos sexuais

 Bem como já disse um dos célebres da literatura brasileira : Homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade — voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Defensores concordarão, mas os opostos continuarão hasteando a bandeira do preconceito e mediocridade.

Muito provavelmente, esses usarão como argumento a opção sexual do autor da frase, Caio Fernando Abreu, para justificar suas palavras ditadas - aliás, opção uma ova, porque ninguém escolhe ser vítima de preconceito. Nada mais óbvio, já que o escritor era gay. Mas isso não implica dizer, por exemplo, que ele era péssimo jornalista. Ou então, que Renato Russo tinha uma voz desagradável e composições medianas. E também não seria coerente dizer que Jodie Foster não atua bem. Sabemos disso. Logo, a sexualidade deles não os desfavoreceram em absolutamente nada. Somos tão rudes e ignorantes, que nem paramos para colocar a mão na cabeça e pensar que os gays pouco se diferem de nós. Que, devido a um fator, milhares de outros são colocados em pauta e, assim, todos são desmerecidos. No Brasil, um país de questionável nível cultural e educacional, observa-se uma homofobia crescente e, o pior, sem embasamentos. Já em um contra-argumento, a bíblia condena a fornicação entre pessoas de mesmo sexo ou não. Além do mais, se todos os seres foram criados por Deus e sua natureza vai contra o homossexualismo, por que até mesmo os animais têm relações homoafetivas? Portanto, saiba que essa não é uma particularidade do ser humano. Nem hoje e em nenhuma outra época da história. 

Sendo a homossexualidade algo completamente natural - por mais que haja resistência em aceitar os fatos -, alguns países como a França e o Canadá já legalizam a união civil entre casais gays. Do contrário do que se pensa, porém, o Brasil não está entre os mais conservadores. Acima dele, existem os países que condenam por lei a prática. É o caso clássico de muitos países árabes. Exatamente aqueles onde a mulher é tida como inferior ao homem. Ainda há a questão de ferir os direitos humanos, desrespeitando e humilhando pessoas, simplesmente por uma discordância sexual ocasional. É importante salientar, também, que a participação e inclusão de LGBT na sociedade faz diferença na economia do país, principalmente se ele for emergente. Isso porque os gays se sentem desestimulados a estudarem e/ou trabalharem, impactando de forma negativa no PIB. A conclusão foi de um estudo divulgado pela Universidade da Califórnia e pela Agencia de Desenvolvimento Nacional, ambas nos EUA. E, recentemente, a união civil entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecida no Brasil. Ou seja, você aceitando ou não, eles fazem parte de um coletivo e é o seu dever, no mínimo, respeitá-los.

É exaustivo ler notícias sobre mulheres e homens que foram expulsos de bares e restaurantes por trocarem carinhos e beijos. É ofensa para quem? Para as mentes ricas em paradigmas arcaicos e concepções equivocadas, mas pobres em humanidade. Falta caráter e firmeza nas palavras para se livrar desse mal que nos consome de dentro para fora: o preconceito. Isso só nos ridiculariza e envergonha nossa espécie. Aliás, aqui não excluo nenhum tipo de preconceito, mas resolvi voltar a atenção para os gays. Pais, aceitem seus filhos. Não ignorem todas as características deles por um mero fator. É válido esclarecer, também, que afastá-los da realidade de, por exemplo, um beijo entre dois homens na televisão, não evitará uma "tragédia". Se seu filho tiver que ser gay, ele será e ponto. Gosto de pensar que, de certa forma, somos todos iguais. Ou melhor, sexuais. Eu posso, eventualmente, me sentir atraída por uma mulher, e um homem pode reconhecer a beleza de outro. A sexualidade nos torna humanos; o preconceito nos distancia disso. Você pode não concordar comigo, mas deve respeito à sua vizinha lésbica, ao seu chefe gay e à sua tia transexual. Assim como muita gente respeita a porra do seu mal humor na segunda-feira de manhã. 


- Mariana Sanches Moraes