A incrível indústria de relacionamentos
Lendo um engenhoso texto do recentemente falecido escritor uruguaio Eduardo Galeano, percebi algo interessante sobre o que pode ser metaforizado nos relacionamentos. O autor falava sobre o consumismo e como tudo hoje é considerado descartável, com vida útil. Então, refletindo um pouco, cheguei a uma conclusão: somos consumidores no mundo das conquistas também. A aplicação não muda: queremos a melhor marca, o modelo em alta e com direito a exclusividade, mesmo que para tais condições tenhamos que pagar caro. E pagamos, de fato.
Nos vemos tão freneticamente concentrados em conquistar alguém que traçamos um objetivo muitas vezes sem limites. Queremos porque queremos quantidade. Não somente na noitada, mas também no cotidiano da segunda-feira que nos aflige. Temos uma necessidade de ganhar espaço no pensamento de alguém, mas não nos contentamos em ter apenas uma pessoa. Nos sentimos mais satisfeitos e confortáveis com opções. Mas, afinal, queremos ter na nossa lista de contato recheada por questões de ego ou de insegurança? Um tampa o buraco do outro.
Como no consumismo, estamos sempre em busca do que só acumula e entulha. Quando vamos ver, o objeto-pessoa está tão empoeirado e sem utilidade que nos obrigamos a jogar fora ou colocar à venda. E, incompreensivelmente, nos vemos incapazes de escolher. Queremos todas as possibilidades da prateleira, então olhamos, olhamos, e não esticamos a mão para pegar o que nos interessa, porque somos mimados demais para isso. "Por que um se eu posso com vários?", pensamos. Mas, no fim, vai por mim, ninguém aguenta. Sempre falta alguma coisa. Ninguém dá conta de dar tudo pra tanta gente. Um beijo demorado sempre falta. Mas beijos demorados também exigem doação, sentimento. E é aí que nos damos conta de que estamos consumindo errado. A demanda é grande, mas o produto muitas vezes vem com defeito de fábrica.
Sim, também somos produtos desse sistema. Pois, ora, nos comportamos como tais. Nosso exercício favorito é massagear o ego, ainda mais quando vemos que há competitividade. Aí pedimos para que nos abanem. E assim vamos adquirindo métodos para não ficar só, ignorando o que precisamos e nos alimentando de porcarias que nos é dado - ou buscamos, o que é pior. Daí o porquê de idealizarmos o outro. Consumimos as pessoas e acabamos por sermos consumidos por nossa própria frustração e desamparo ao finalmente entender que fazemos parte de uma verdadeira indústria de relacionamentos.
- Mariana Sanches Moraes
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