Ela me deixou






Ela me deixou. Mas, muito mais do que apenas me abandonar, ela me deixou confuso, cabisbaixo, desgostoso da vida. Ela me deixou em pé ansioso, sentado esperando e deitado insone. Me deixou triste, depois me matou de rir; me deixou acordado, daí me pôs para dormir. E essas discórdias que me dilaceravam também me faziam ter a certeza de que ela não valia a pena.

Embora eu tenha dito isso apenas uma vez e para mim mesmo, ela sabia que eu estive pensando nela em vários momentos dos meus dias. Já ela, talvez sim, talvez não. Porque eu nunca soube se eu podia agir no ímpeto, como gente apaixonada por aí faz. Eu não sabia se ela diria que lembrou de mim enquanto passava pelo parque ou se me apertaria com vontade os braços enquanto eu a beijava no pescoço. Por isso, tudo era sempre uma surpresa: ora boa, ora ruim. Mas essa inconstância já não me dava mais boas razões para prosseguir com esse romance unilateral. E então, como tão óbvio quanto se possa parecer, ela me deixou.

Demorou algum tempo e me empenhou para alguns esforços, mas eu finalmente entendi que ela nunca soube o que queria. Nem comigo, nem com ela mesma, nem com o mundo no qual habitava. Ela era perdida em si, embora eu tivesse me encantado com suas poucas qualidades. Me encantei com a maneira dela me fazer sentir uma paixão vulgar e um ódio vago a cada gesto. E agora, trabalhando muito mais em fugir dos meus próprios pensamentos do que em expulsá-la deles, sigo rumo à calmaria. Sem ondas no meu mar de sentimentos, apenas um azul que nem mesmo o vento ousará movimentar. E então prometi: nada de me apaixonar outra vez.

- Mariana Sanches Moraes

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