Inocência
Hoje vi um menino que me intrigou. Aparentava
ter uns 11, 12 anos. No começo da vida, cara de assustado, óculos de grau
parecido com aqueles antigos, os famosos "fundo de garrafa". Mas o
que me intrigou não foram seus óculos ou sua aparência e sim sua inocência. Pude
ver, além daquelas lentes grossas, que, ali, habita um menino inocente.
Trocamos olhares - nada homossexual ou
pederasta, apenas olhares que mostravam a diferença entre quem ainda possui a
inocência e quem já a perdeu. Confesso que
não foi a primeira vez que aconteceu isso comigo. Há um tempo, tinha passado
por esta mesma experiência: ver um menino jovem saindo da sua infância e indo
para a adolescência daquela maneira. Não sou velho e tenho consciência de que
vou ver e fazer muita merda no resto da minha vida. E foi justamente essa
consciência que me deixou intrigado desta forma. Fiquei pensando: quando foi
que perdi a minha inocência? Quando passei da infância pra adolescência? Quando
perdi minha virgindade? Quando usei minhas primeiras doses de diferentes drogas
na vida? A paixão foi uma delas. Essas perguntas me deixaram cabreiro.
O fato
de hoje me fez pensar nas mesmas perguntas. No meio de tantos pensamentos e
dúvidas, surgiu uma questão: "eu perdi ou a cada dia perco a minha
inocência?". No entanto, não cheguei a alguma conclusão. Será que perco
minha inocência a cada tragada num cigarro? A cada gole numa bebida? A cada
respiração? Ou será que perdi quando me apaixonei pela primeira vez? Ainda quem
sabe, quando deixei de acreditar em Deus? Questões que talvez poderei responder
daqui 10, 20 ou 30 anos.
O ponto
é que a nossa inocência é algo tão precioso, mas não damos muita importância. Tanto
que só pensei sobre isso com quase 20 anos. Fico feliz por quem ainda possui a
sua inocência nos dias de hoje. Por mais que sejam a maioria crianças púberes
que mal pensam na vida, nos problemas que a ela traz. Apenas ficam ali, com a
sua inocência. Não se importam com o que vai acontecer amanhã, ou daqui 5
minutos. Para elas, são apenas coisas de adulto fúteis para o momento. Os
inocentes só querem brincar e fazer o que der na mente, enquanto a sociedade os
molda para que se tornem pessoas como eu, nem tão inocentes mais. Por isso,
creio que seja um ciclo vicioso. Talvez percamos exatamente quando deixamos o
que está ao nosso redor nos moldar. Deixamos de fazer aquilo que vem na cabeça,
apenas por regras ditadas por pessoas que nem te conhecem e provavelmente
jamais conhecerão.
Provavelmente essa indagação seja parte de um processo de conhecimento
pessoal. É engraçado, pois, para obter esse conhecimento, é necessário observar
ao redor e fazer julgamentos, errôneos ou não. Por exemplo, no meio das
questões que formulava, vi uma garotinha que aparentava ter de 4 a 6 anos. “Acabou
de sair das fraldas”, julguei ela. Pensei em que momento aquela criaturinha
iria perder a sua inocência e se transformar numa mulher. Uma mulher justa,
bondosa, generosa ou uma mulher cretina, calhorda. Uma mulher que não liga para
sexo ou uma mulher que fará sexo sem pudor algum e sem vergonha alguma. Será
que ela irá amar alguém a ponto de esse alguém ser o seu único amor até a morte?
Ou será que a moça irá amar e se desiludir com o amor, fazendo o mesmo que foi
feito com ela com outros homens ou mulheres? Quem sabe então uma mulher livre,
sem ressentimentos, que só queira viver um dia após o outro? Milhões e milhões
de possibilidades. Posso ter me baseado em alguma frustração que aconteceu na
minha vida para julgá-la ou posso ter me influênciado naquilo que existe ao meu
redor. Irônico, pois a “moldei”. Justamente aquilo que eu havia criticado
acima.
Apenas
gostaria de falar aqui o que jamais falarei para essas crianças que me fizeram
pensar e qualquer outra no mundo. Sejam fortes, nunca desistam. A vida bate na
gente de uma forma que jamais voltaremos a ser o que éramos. Aguentem tudo o
que vier, afinal, isso é viver.
- M. Lang
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