Para você, eu sou nua

Embora seja óbvio para os distraídos e indubitável para os céticos, eu preciso dizer que, para você, eu dispenso roupas. E dispenso mais: coração desacelerado e atitude mentirosa. Dispenso o risco de perder e a adrenalina de esperar. Para você, sou de verdade, porque existe certeza e é nela que eu quero me deitar. Com você não há céu cinzento com garoa, lençol por entre as pernas, beijo sem selinho, rosto sem sorriso. Não há meia boca, meio termo, meias palavras, meias descalças - muito menos paradoxos ou eufemismos.

Eu me desnudo de todas as dúvidas e metades e permaneço com a veracidade dos fatos inteiros. Nenhuma vergonha ou pudor. Nem mesmo as minhas defesas e reações, que me mantiveram longe de paixões amargas por algum tempo. Isso tudo sem eu nem mesmo desabotoar a camisa, tirar a calça e desprender o sutiã. E, ainda assim, estou nua. Então, aproveita essa minha entrega e me peça para ficar. Seja para dormir às nove da tarde, tomar um café da noite ou perder a hora, a cabeça, o controle. Seja para assistir jornal das onze, fumar um cigarro na varanda ou deixar a noite acabar em pizza. Mas não deixe que ela acabe solitária. Me peça para ficar na sua cama, na sua mente, na sua vida. Me peça para ficar nua, inteiramente sua. Assim como eu lhe peço para me invadir.

Não precisa pedir licença. Pode chutar a porta, esperar um manifesto, tocar a companhia ou simplesmente entrar. Ela está destrancada, de qualquer forma. Só entre, porque eu percebi que, de alguma maneira, você já é parte da bagunça do meu mundo. E, embora seja difícil para os cheios de brio admitirem e impossível para os românticos negarem, eu preciso dizer que você me tem, em todas as circunstâncias. E que, para você, eu dispenso segredos.

 - Mariana Sanches Moraes