Ódio-meio-amor
Eu odeio você. Odeio seu jeito, sua cara de deboche, seu
sorriso e suas curvas. Mas suas curvas, principalmente, por me desnortearem e
me deixarem tonta. Odeio seu perfume e a maneira como você prende o cabelo. A
maneira como amarra o tênis e a maneira como me deixa sem jeito. Odeio quando
você me xinga, mas odeio ainda mais quando você me pede para ficar. Odeio seu
domínio sobre mim, mas odeio ainda mais quando eu percebo que não consigo
dominar é nada. Nem mesmo as palavras para escrever. Nem mesmo os sentimentos
que moram em mim.
Você me deixa confusa demais para pensar. Você faz com que
todas as cores se transformem em lembranças que talvez nunca eu pare de
recordar. Você me prende nesse labirinto e eu temo não achar a saída. Eu temo
estar nele sozinha. As paredes ás vezes são ásperas demais para eu saber. E eu
me torno então incapaz de dizer qualquer coisa a não ser que eu odeio você.
Odeio o fato de você me ter assim tão fácil, tão perto, tão sempre. Odeio
encarar a realidade de que, um dia, você vai continuar caminhando por aí,
independente, fumando seu cigarro branco e vermelho como se não gostasse de
azul, seguindo os rastros do seu instinto perigoso, esvaziando copos de cerveja
e enchendo corpos de desejo. Não mais o meu. Não mais.
Só que eu, pobre menina
desacolhida, sempre levarei um pedaço bem maior do sentimento para casa. Sempre
serei eu a menina desconsolada que verá um pouco de você em todos, um tudo de
você em tantos. Sempre encostarei a cabeça num outro ombro pensando em nós, em
nossos nós. Eu, muito mais do que você, guardarei esse ódio-meio-amor em cada canto
do meu canto, em cada palavra das minhas escritas, em cada detalhe dos meus
reparos. Eu odeio você porque não consigo dizer o que eu sinto, porque eu,
definitivamente, não odeio você.
- Mariana Sanches Moraes
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