A loucura é genial
Eu sozinha, no quarto com penumbra e com um grande recorte de letras na parede, começo a pensar sobre as palavras que cultivo comigo. Começo a perceber o quanto eu dou importância a elas e o quanto elas me confortam. E às vezes me ocorre uma frustração desmedida por não saber o que fazer com elas, como escreve-las, como dize-las, como praticar suas significâncias e eu temo que elas passam pela minha vida sem me deixar alguma espécie de sabedoria. Como, por exemplo, a loucura. Já dizia Marilyn Monroe que a louca é genial. Mas o que é loucura, afinal?
Fazer planos de uma vida durante uma noite? Desfrutar de um orgasmo em um lugar público? Beijar alguém sem ao menos saber o nome? Correr pelada pelo quarteirão? Mandar o chefe ir para a puta que o pariu? Fugir de casa, da cidade, do país? Talvez seja só se apaixonar. Talvez seja só mudar de rumo no meio do caminho. Talvez seja só, sabe, relativo demais para definir. Infinito demais para descobrir. Você sabe, existe um certo gosto pelo desconhecido, pelo que é contrário ao que os outros aceitam. Loucura pode ser correr riscos quando se tem a estabilidade das circunstâncias, sofrer por amor em vez de se manter na própria esfera de proteção, encarar a chuva sem abaixar a cabeça ou dar passos ligeiros, fugir da pontualidade e do que atrasa por alguns dias ou por algumas eternidades. Loucura pode ser mesmo escolher mudar de posição política, colecionar moedas antigas, viajar sozinha, gritar na rua ou rir alto.
Loucura, de qualquer modo, é só mais uma das palavras que eu guardo na gaveta. Às vezes eu tiro para usar. E, de usar, eu aprendi: bem no fundo, loucura é não fazer nenhuma loucura na vida. Por isso ela é assim tão genial. É para poucos. Poucos que ousam pensar diferente e fazer valer o que acreditam.
- Mariana Sanches Moraes
Comentários
Postar um comentário