Amadureci, enfim


 E aqui estou eu, mais uma vez, com a cabeça cheia de perguntas. Perguntas sem respostas. Como jamais antes. Eu me encontro num estado de transe, como se a minha vida estivesse um passo, ou dois quarteirões, à minha frente. Na verdade, não sei se estou me encontrando ou me perdendo. Se eu estou, quando encaro o espelho, diante de alguém que finalmente descobri que conhecia a vida toda ou se estou distante de tudo aquilo que eu deveria ser. De uma coisa, pelo menos, eu sei: encaro o espelho com coragem. Encaro as cicatrizes, as manchas, as feridas. Ainda não aprendi a lidar com elas, a coloca-las em plano passado, mas eu posso constatar que estou tentando. À minha maneira desajeitada, mas estou tentando. 

Estou aprendendo que, embora o caminho que eu escolhi seja mais complicado do que eu imaginava, há fibras internas em mim que eu nunca pensei em usar e forças vindas de algum lugar muito maior do que todas as coisas que eu planejei. Me sinto bem com isso. E vejo com as mudanças, eu sou uma verdadeira sonhadora. Eu sempre soube: eu vivo mais dentro de mim do que do lado de fora. É que é mais aconchegante. Não dói tanto. Ou talvez até doa mais, mas é uma dor imaginária e aí passa. Como se nunca tivesse existido. E quando eu percebi os braços do mundo puxando a minha mão, "então é isso?", perguntei a mim mesma. "Este é o mundo real de que tanto se fala?", pensei. Perguntas de novo. Mas a resposta é clara: sim. É isso mesmo. E no mundo real a dor é real. As pessoas realmente sofrem. É uma loucura. É um mundo cruel. Ele não deixa eu me alimentar de esperanças muitas vezes, não me ensina a andar novamente quando eu tropeço, não me coloca para dormir quando as coisas estão ruins, não me apoia quando eu preciso, mas é o mundo real. Que todo mundo vive. Que todo mundo sofre de graça e paga caro para sorrir. Sou parte disso agora. Sou parte de todas as noites mal dormidas, as lágrimas de perda, as ausências de amor e de dinheiro, as desistências de sonhos e as expectativas não atendidas. 

Amadureci, enfim. Sou menina grande, grande menina. Saí do colo dos pais, do escuro do armário e da manta que me cobria para viver a vida como ela é. Sem propaganda ou boatos. Eu vivo a vida nua e crua. E vou vendo, entre uma estrada pouco habitada e outra, um canto para chamar de lar e as chances para construir história. 


- Mariana Sanches Moraes

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