Desapegue do ciúme
Quando éramos crianças, a estrutura da personalidade - segundo Freud - que se desenvolve em nossas mentes justifica o porquê éramos incapazes de aceitar negações. Éramos pautados em birra e manha, sem noção de certo ou errado. Mas a questão é que tem muita gente que cresce e segue com chantagens para conseguir o que quer e é completamente inconformista ao receber um "não". Aí essas pessoas entram num relacionamento, qualquer que seja, e acham que têm o direito sobre a outra. Acham que podem agir como há anos, na infância, época que podia ser até aceitável um comportamento desses. Porém, agora, já crescidas, essas criaturas não aprendem a lidar com a nuvem negra que paira sobre os relacionamentos: o ciúme.
Reconheço, claro, que é difícil lidar. Uns dizem que sem o ciúme não existe amor e outros defendem o argumento de que é preciso se adaptar um ao outro numa relação. Todo mundo tá um pouco certo nessa história. Se você ama alguém, você vai sentir ciúme em algum momento. Mas, ainda assim, o ciúme tem que pisar em ovos. Ciúme de certas situações ou pessoas podem ter fundamento ou não. Nada de neurose. E a ideia de que amor tem que ser leve sempre vai ganhar. É disto que se trata o amor: acalmar as ondas de marés agitadas, abraçar os erros e acertos e deixar ir. Deixe ir. Eu não entendo a razão pela qual as pessoas não aprendem a deixar ir, deixar ser, deixar acontecer. Caras, se uma criatura se relaciona com outra criatura é porque existe desejo mútuo nisso. Em outras palavras, se a pessoa gosta de você, por que diabos você insiste em arrumar motivo pra discussão? Existe um intervalo de tempo muito curto entre ciúme e possessão. E a possessão é perigosa. Além disso, me dá impressão de que o amor não tem moradia numa relação dessas e as pessoas são tratadas não mais como pessoas, mas como objetos inanimados, sem direito de vontade própria e de tomada de decisão.Mas, bem, que falta de atenção a minha, isso já vem acontecendo há muito tempo. Por isso, a confiança tá aí - ou deveria estar - para não deixar o barco afundar. Confiança em si e no outro.
Embora o amor se trate de liberdade, esse sentimento exige que sejamos minimamente adaptáveis às adversidades de um relacionamento também. Em algum momento, você vai abrir mão de alguma coisa. Mas isso não pode te fazer mal. Ás vezes, atender a um pedido da outra pessoa de não ir a tal lugar e entender o lado dela, é natural. Tem de haver essa honestidade e empatia de ambas as partes. Afinal, ninguém está disposto a permanecer numa relação ditatorial, na qual a reação da pessoa ao receber um "não" acarreta sempre em brigas, na qual o ciúme não tem cabimento, na qual um se sente dono do outro. Isso é qualquer coisa, menos amor. Tá faltando abdicar de certas infantilidades, encarar as dificuldades se for para ficar junto e ter humildade para compreensão. E, em tempos de desapegações, desapegue do ciúme exagerado. Do contrário, a outra pessoa é que vai desapegar de você.
- Mariana Sanches Moraes
Comentários
Postar um comentário