Vinho, sexo, eu e você
Vem cá, sente aqui. Vamos conversar sobre as mudanças que não fizemos. Vamos ouvir o estridente barulho das taças se encontrando enquanto brindamos a falta de propósito para estarmos juntos. Nós não precisamos de um, de qualquer forma. Vamos beber o vinho que nos torna comumente interessados em caçar aventura e aí nós esperamos. Esperamos o momento de eu por minhas pernas sobre as suas de modo tão sutil que você até fará uma pequena pausa entre uma sílaba ou outra enquanto conta sobre como foi o seu dia. Esperamos o instante em que você passeia despretensiosamente suas mãos sobre minha pele, despertando os arrepios adormecidos que eu já nem sabia que ainda moravam em mim. Esperamos a parte em que eu então percorro o caminho do seu corpo com a boca, sem promessa de parar no meio do percurso. Apenas porque eu quero sentir cada centímetro desse trajeto sinuoso. Quero sentir o gosto dos seus tantos sabores te devorando com os olhos, como eu sei que você também quer.
À essa altura, estamos despidos de culpa e vergonha. Só vestimos o calor e o libido e isso basta para nos manter aquecidos o resto da noite. Então, deite aqui. Não precisa ter pressa para deixar a cama de manhã, nem se inquietar com as horas atropeladas que provam que a noite está sendo boa demais para acabar. Apenas me aproveite. Aproveite o agora e a lembrança depois, porque você não irá esquecer de mim assim tão fácil, assim tão cedo. Você vai perceber, daqui algum pouco tempo, que te valerá muitos esforços esbarrar em alguém como eu. Que as músicas não serão como as minhas e o sexo não será como o nosso. E aí, pensando nisso, talvez você fique mais um pouco e perceba que neste quarto, nesta cama, existe muito mais do que apenas troca de prazeres.
Não importa também descobrir o que é, mas existe uma certa delicadeza na maneira como você me toca e uma certa doçura nas suas palavras que eu não hesito em retribuir. E ficamos assim, deitados sobre estes lençóis, sob o efeito de uma substância que nós acreditamos nos encorajar a fazer e a dizer coisas que sobriedade nenhuma permitiria. Nós continuamos acreditando nisso, não é? Mas sabemos que não precisamos do vinho. Nem de um propósito para estarmos juntos. Então, mais um brinde aos nossos desprendimentos que nos prendem um no outro. Ao amanhecer, nós colocaremos a culpa de uma noite inteira em uma garrafa de vinho como todo casal bom de cama faz.
- Mariana Sanches Moraes
Comentários
Postar um comentário