Últimos suspiros
Eu estou morrendo. Você também. Estamos nos nossos últimos
momentos, últimas lembranças, últimas vitórias, últimas perdas, últimos
bocejos, últimas euforias, últimos orgasmos, últimos espasmos, últimas brigas,
últimas chances de nos desculparmos, últimos cigarros, últimas taças de
vinho, últimos suspiros. Respiro. Eu não vou voltar amanhã e não quero que me
procurem. Minha doença não tem cura, mas vou buscar a felicidade e não a
imortalidade. Porque o que é bom acaba e o que é ruim também. É o que ouço as
pessoas dizerem. Para mim, contrária a tudo como de costume, coisas boas e
ruins podem acabar, mas não têm fim. Quem tem fim somos nós, eu e você, marido
e mulher, sogra e sogro, pai e filha, madrasta e tia, namorada e namorada.
Seres humanos têm fim. Pelo menos se pensarmos assim, aumentamos a capacidade
de escutar nosso ritmo e diminuímos as probabilidades de agir errado.
Escutar nosso ritmo. Isso significa que cada um de nós batuca
diferente, ou seja, coração também faz música. Se tivermos a ciência de que
estamos morrendo a vida, e não vivendo a vida, com certeza não mataríamos a
vida. Perder tempo é matar vida. Apenas ouça o seu ritmo interno e siga esse
caminho dançando, esse é o meu conselho. Agir errado. Isso significa que cada
um de nós tem uma ideia do que é errado, ou seja, o errado também pode ser
certo. Depende para quem. Mas agir errado é perda de tempo para todo mundo
igual. E também não temos tempo de aprender com os erros. Erremos menos. Já somos um erro. E a sabedoria que mais importa foi de nós retirada quando garotinha
e garotinho éramos, ingênuos demais para perceber tamanha grandeza em nossa
alma. Agora adultos, eu e você, temos conhecimento de tudo. É o que esperam que
tenhamos, mas me pergunto de sabemos usá-lo. Vejo que, de fato, à medida em que
o tempo passa, enquanto existimos, somos cada vez mais dissolvidos. Minhas
células morrem, meus neurônios, e o que me resta é morrer de corpo porque de
alma sinto que às vezes já me fui há muito tempo. Estou pacientemente esperando
minha vez como quem espera o filho chegar em casa na madrugada dançante.
E de raro hábito enxergo a vida com os olhos de quem está morrendo,
embora eu esteja. E você também. Eu ainda respiro, eu ainda tenho consciência,
eu ainda existo, eu ainda vivo. Renasço uma vez por dia e morro duas para
compensar a intensidade dos meus feitos em terra. O grande detalhe é valorizar momentos. Um dia que você pensar ser um qualquer, será o de seus
últimos suspiros.
- Mariana Sanches Moraes
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