Não tire de você a responsabilidade de mudar o mundo


 Lembro-me de quando criança querer crescer logo. Eu queria poder conversar com os mais velhos sem erguer a cabeça ou sem ser tratada como se não fizesse parte do mesmo mundo. No entanto, crescendo não só física mas também intelectualmente, percebi que eu teria de carregar em mim algo que não levava tradução clara até eu conhecer: a tal da responsabilidade. 

Para cada idade, uma responsabilidade diferente. Aos onze, era a de não me atrasar para a escola. Aos quinze, era a de entregar o trabalho de matemática. Aos vinte, é a de se empregar. E existem outras, como cuidar do cachorro de estimação, ir bem na prova de inglês, acordar cedo, levar o irmão à ginástica, abrir uma conta no banco, não faltar àquele compromisso e por aí segue uma lista infinita. Mas a verdade que enxergo agora é que, embora acreditemos estar fazendo mais do que o necessário e por isso nos sentimos saturados, estamos colhendo migalhas. Não somos o suficiente. Não somos o nosso melhor. Não assumimos as maiores das responsabilidades só porque temos filhos, parceiros, aluguel ou despesas que sejam. Esses são compromissos que nós mesmos criamos. Demorei para entender e demorei mais ainda para aceitar que há apenas uma responsabilidade inerente ao ser humano, e essa, amigos, é a de mudar o mundo.

Embora a mais importante ela seja, a mais ignorada ela é. Não tire de você a responsabilidade de mudar o mundo, porque, de certa forma, isso implica em fugir da responsabilidade de conquistar o que você quer e de assumir os erros que você comete. Porque, de certa forma, isso implica em fugir da responsabilidade de mudar a si mesmo e o mundo, ao contrário do que muita gente pensa, não é o chão que você pisa ou o conjunto de todos os continentes. O mundo somos nós. Portanto, não jogue a responsabilidade de recolher o lixo da sua rua no gari se você não tem a capacidade de se abaixar para pegar o papel de bala que a sua vizinha deixou cair. Não passe a responsabilidade de lutar pelos direitos das minorias para as minorias se você, enquanto branco, rico e heterossexual, não defende uma pessoa que está sendo discriminada na mesa ao lado no restaurante. Não finja que a responsabilidade de fazer as pazes não é sua simplesmente porque não era você o culpado. Não ignore a responsabilidade de doar roupas para os desabrigados, comida para os famintos ou prestar socorros a vítimas de tragédias simplesmente porque outras pessoas vão fazer isso. 

Mais do que responsabilidade por tudo que você conquista, como escreveu Antoine de Saint-Exupéry, você tem culpa por tudo o que acontece no mundo. Tanto pelas coisas boas quanto pelas coisas ruins. Afinal, você está nele. É como uma cena de crime: se você esteve lá e não fez nada para impedir, é cúmplice. Então, faça alguma coisa. Represente alguma causa, mas não fique diante de uma tela lamentando as notícias que a mídia destaca. A iniciativa, junto às perguntas, movem o mundo.

- Mariana Sanches Moraes

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