O mundo está morrendo pela política




Militantes do grupo Estado Islâmico (EI, não ISIS, porque aqui se fala português), atacaram pontos na capital francesa, matando cerca de 120 pessoas. Nos dois dias seguintes, o Governo Francês já autorizou ataques a redutos do EI na Síria, com caças, mísseis, e um poder de fogo consideravelmente mais destrutivo, que deixará centenas ou milhares de mortes onde o alvo for atingido. Vale lembrar que, mesmo onde o EI se aloja, existem civis, pessoas inocentes como você ou eu, que também vão morrer em vão pelas mãos de militares franceses. 

 Essas pessoas são mortas, na Europa, no Oriente Médio, na África ou em qualquer lugar, não por razões pessoais, mas por razões políticas. Não existe bem ou mal. Justamente por não ser razões pessoais, por não haver humanidade, pessoalidade, que franceses, sírios e outros combatentes não hesitam em matar e morrer pela causa na qual acreditam, seja esta a luta contra o terrorismo, ou a luta contra os infiéis. Em todos os casos, pessoas que não tem nada a ver com essa história toda estão morrendo. Essas pessoas são, para ambos os grupos, massa de manobra, estatística, número. Embora o EI utilize métodos terroristas para militar por suas causas, ele é um grupo, acima de tudo, político, que busca o controle de uma área. Matar, para eles, bem como para o exército francês, vale não mais que imprensa, expressividade, medo, ou seja, ações políticas! Esses argumentos não estão validando ataque de ninguém. 

O ideal seria que as guerras nunca existissem. Mas sabemos que desde o princípio da humanidade, os homens matam e morrem por motivos políticos e religiosos. Apesar de já estarmos em 2015, a fúria bestial do ser humano não mudou muito desde a época de Aquiles. É a política também que determina que os ataques do EI em Paris tenham uma maior expressividade na imprensa, por consequência uma maior comoção popular, do que os ataques franceses à Síria ou os impactos do rompimento de uma barragem no interior de Minas Gerais. Geopoliticamente, a terra do Iluminismo, do Napoleão e da Torre Eiffel vale mais do que um país do Oriente Médio, assolado por uma guerra civil, com um solo infértil e uma pobreza crônica. 

É injusto que valoremos as vidas perdidas em quaisquer ataques de natureza destrutiva, terrorista, militar, ofensiva ou como quiser chamar. São vidas humanas e ponto. Mas é inegável que as mortes de franceses parecem doer mais em nós do que as mortes dos sírios ou dos nossos conterrâneos mineiros. Por fim, Pray for Paris, ou não reze, se não quiser. Mas se for rezar pelos parisienses, lembre-se de rezar pelos brasileiros que estão sem água por onde passa a lama tóxica da Samarco. Estes [ainda] estão vivos. Lembre-se também dos muçulmanos e dos sírios, que, após os ataques do EI, que não representam nem a metade da religião islâmica, tem sofrido preconceito e rejeição ao redor de todo o mundo. Ser muçulmano NÃO significa ser terrorista.



Comentários

Mias populares