Nocaute



cassie kämmerzell

Ela desarmou. Antes de mim, a si mesma. Se desfez dos malefícios de se doar como se não existissem motivos para recuar, se despiu como se vestisse apenas a própria pele. Me desarmou.Veio como quem não quer tirar o sono, como quem desconhece a própria natureza de ser extremamente envolvente. Sem pensar nas consequências a gente acaba falando demais, pensando demais, sentindo demais. Mas ela, menina dos olhos cor de amêndoa, parece não acreditar nas consequências assim como não acredita nas inverdades. Se joga, se atira, se solta. É tanta coragem que me tira qualquer medo.

Nas nossas saídas quase que sigilosas sem intenção, quase que despretensiosas com pretensão, ela me fala das suas viagens-fugas, viagens-encontros e viagens-perdas. Talvez nem ela saiba, mas enquanto ela me mostra o mapa com seus beijos eu me imagino viajando pelo seu corpo inteiro. Sem conexão de aeroporto para aeroporto, sem passagem de volta. Apenas ida. Sem pressa, sem calma. Até porque o nosso tempo é medido pela intensidade, não pelas horas. Com as horas eu me preocupo somente quando espero para vê-la outra vez. E de novo, e de novo.

Eu não sei tanto dela como os outros, mas sei coisas dela que os outros não percebem. Sei detalhes que só nos realces se enxerga. E aposto que ela nem sabe disso. Nocaute. Porque ela descalça qualquer estrutura para essa falta de chão. Nocaute. Porque ela me deixa incapaz de continuar lutando. Nocaute, pela sua vitória que vence qualquer vencedor de quaisquer artes marciais e, sobretudo, de qualquer golpe.

- Mariana Sanches Moraes

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