Suas palavras são de dente-de-leão
Alison Acarpulla
Eu não confio mais meus segredos a você, nem mesmo um soneto, um cumprimento. Eu não me atrevo mais a cruzar minhas palavras com as suas. Nada do que você fala se escreve, então eu escrevo sobre essa sua falta de propósito em manter suas palavras vivas. Eu nunca lhe disse para fazer promessas, porque, eu sei, prometer é um ato muito bonito, mas que exige muita propriedade. Ninguém sabe o futuro que lhe pertence. Prometer deveria ser hábito só dos videntes, dos certeiros, dos sensatos. Não somos nada disso. Somos apenas uma peça de um quebra-cabeça que nunca encontrou as outras partes. Somos apenas um pouco do que você deixou e um pouco do que eu peguei. Você me deu restos e palavras descartáveis, daquelas que a intenção se dissolve como papel em água. Nada senão suas palavras de dente-de-leão. A gente sopra e elas voam para longe, até se confundirem com qualquer paisagem medíocre de muita ventania.
- Mariana Sanches Moraes
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