Gaiola das certezas



 lisa-marie kaspar

Tudo consiste em atrair através do pensamento. Pensamentos viram coisas. Boas ou ruins. Depende de você. Uma verdade é inevitável: a responsabilidade é sua. Se a sua vida é boa, parabéns, a culpa é sua. Se a sua vida é ruim, parabéns, a culpa é sua. Para mim, enquanto estranha humana tentando entender o próprio corpo, o próprio mundo, foi difícil aceitar que carregamos todo o peso ou toda a leveza do que compõe nossas vidas. De tudo. Parece que seria mais fácil se nossas escolhas não fossem nossas quando nos arrependemos delas, que seria melhor se simplesmente pudéssemos jogar a bola para os outros e tirar o corpo fora em relação aos nossos problemas. Mas não funciona assim. E que bom. Que bom que podemos decidir entre ir ou ficar, resistir ou desistir, sorrir ou chorar - Cora Coralina  estava certa. A escolha que nós fazemos, nos faz. Eu estou aqui porque eu escolhi isso.

O meu emprego, a pessoa com quem me relaciono, minha casa, minha cidade, minha rotina. Nada está me prendendo senão eu mesma. Não é o compromisso que estabeleço com o meu trabalho, não é minha responsabilidade de não desapontar as pessoas próximas a mim, não é o   tempo que eu demorei para construir essa vida. Sou eu. Meu medo de recomeçar. Meu medo de dar errado. Meu medo de perder a estabilidade. Meu medo de arriscar. Pouco importa os fatores externos. É essa minha gaiola de certezas que me deixa sem asas. Porque alguém que eu li dizia que as certezas moram nas gaiolas. Não temos refúgio, voos altos, emoção. Não vivemos porcaria nenhuma. Nos alimentamos do que nos é dado, sem muito critério. Rações reaproveitadas, industrializadas e migalhas. Nossa visão do horizonte é tão miúda que o sol não reconhece que tem vida nas gaiolas. À noite as estrelas protagonizam o céu e então a gente sonha. Sonha que está do lado de fora. Do lado do voo alto. Do lado da liberdade. Do lado da incerteza. Porque é lá que incertezas moram, do lado de fora. Ou melhor, elas não têm moradia fixa. Estão por aí, cada dia num lugar, pairando sobre a cabeça dos incertos e adentrando no peito dos aventureiros. E, embora sejam nômades natas, as incertezas sempre hospedam uma certa loucura.

 Eu só queria poder dizer que tem lugares gratuitos em você que deveriam ser preenchidos pela falta de certeza. Vá sem pensar. Pensar muito adoece a mente. Deixa de ser cabeça dura e entra na canoa que desce a cachoeira, salte no ar que te mantém mais para cima que muito paraquedas, livre-se do que não te faz livre. Sai dessa gaiola onde pisar no chão é a certeza de não cair, nem tropeçar. Se você quer viver no campo da incerteza, como a vida é, nua e crua, não seja imutável. Se você não é feliz, não seja rude consigo mesmo. Mude. Mudar dói, eu sei, mas que delícia é o resultado de uma mudança bem-quista. Agora se você não é capaz de transformar as suas reclamações automáticas em soluções, o problema é seu. Não culpe o universo pela sua falta de sorte quando você não tem a consciência de que quem está querendo briga com ele é você. Porque se você der ódio, vai receber ódio. A lógica é essa. Faça alguma coisa para sair dessa gaiola. Dá muito mais tesão viver uma vida imprevisível, feita de acasos e de repentes. Do contrário, uma hora você broxa.

- Mariana Sanches Moraes

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