Mnemônica inconsciente
benjamin seeley
Essa noite eu vou desligar o celular. Eu não vou te desejar boa noite e depois de três horas te mandar áudios bêbada na madrugada. Eu não vou dizer as mesmas coisas de sempre, os mesmos versos que você já decorou. Não hoje. Eu não vou conferir as minhas notificações de minuto em minuto, preocupada se você respondeu. Eu não vou ficar ansiosa se você demorar e nem contente se te ver digitar. Eu não vou acordar você com uma ligação sem propósito, com aquela desculpa velha e estúpida de que eu quero apenas ouvir sua voz. Rouca, de sono, irritada, que seja. Eu não vou lembrar de você quando estiver bebendo Stella e vou esquecer completamente quando você me surpreendia com sua volta à pista me abraçando por trás e me guiando com a sua dança.
Eu vou ignorar o fato de o seu perfume estar em todo lugar, porque na verdade ele deve estar em mim. E eu vou fechar os olhos para todos os rostos que me lembrarem o seu. Eu não vou ouvir uma risada e pensar ser a sua, não vou jogar o cabelo de lado como você gostava e não vou usar aquela gíria que você me viciou. Só que, na manhã seguinte, quando eu ligar o celular e perceber que eu ainda sou a primeira a começar as nossas conversas e a última a falar, eu talvez vá embora. As horas dormiram com você e eu nem fiz falta. Mas eu, sentinela das cores que te compõe e das poesias que o teu corpo escreve, nem com álcool e nem com sono. Não, eu não te abandono nem em pensamento. A minha mente te hospeda e você não vem. Você não fica. Você não liga. E continua sumida.
Eu talvez vá embora. Eu quero saber se isso significa alguma coisa para você. Mas, também, se não significar nada, é melhor que eu nem saiba. Mesmo que as dúvidas me ceguem durante um tempo, em algum momento eu vou tomar a consciência de que é isso. Você nunca vai mudar e resolver me dar a reciprocidade que eu quero. Depois as coisas se ajeitam e o tempo dissolve a falta, até que eu não saiba mais como é a sensação de ter as nossas vidas cruzadas.
- Mariana Sanches Moraes
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