Uma espécie de prostituta

 olivia bee

Em por alguns poucos instantes ocorre-me que sou uma prostituta. Uma mulher que dá um pouco de si para outros vários seres que nem sequer conhecem a sua história, ou ela a deles. Sou uma espécie de cortesã que não cobra pelas saídas, mas elas me parecem, de alguma maneira, obrigatórias. Sinto que devo seguir os rastros das pessoas que tenho me relacionado até chegar a suas bocas, seus seios, seus pelos. E há algo de muito bonito em conhecer diferentes beijos e transas, papos cabeças e papos confusos, mentes perturbadas e mentes inquietas, e até mesmo os silêncios que gritam, os que confortam ou os que incomodam. Sinto-me parte de um novo universo, como se uma viagem me levasse a um lugar desconhecido e que eu quero descobri-lo. E eu apaixono-me por todos esses alguéns em uma fração de segundos e deixo-me despir em uma de milésimos. Eu amo todo aquele intervalo de tempo com essas pessoas. Amo as piadas sem graça, a falta de criatividade, o tédio, a trava, o tesão, o corpo, a alma, a voz e as ideias. Só que eu posso esquecer seus nomes e o que elas fazem, se estudam, se trabalham, ou os dois, ou nenhum. Não me interessa. Eu garanto que as conheço profundamente, intensamente e estranhamente mesmo assim. Essa necessidade de desabotoar cada traço de seus detalhes me fascina. Eu preciso disso. Preciso colecionar prazeres. Não só os de orgasmo. Mas também os de conhecer gente nova o tempo todo e me apaixonar por elas e me desapaixonar depois. Porque é evidente que após os nossos encontros o amor acabe ali. Eu não amo as pessoas, eu amo o momento que as pessoas protagonizam. Mas sei que sou obrigada a ser assim. Sou obrigada a, ao final de cada encontro, depositar mais uma moeda na minha memória e, assim, desfrutar de toda essa riqueza compartilhando as minhas experiências em forma de conto para quem tiver um tempo para ouvir. 

- Mariana Sanches Moraes

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