Por que a gente dá tempo nas relações e não para nós mesmos

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Eu não acredito em dar um tempo no relacionamento. Se você quer um tempo da pessoa, por que não termina de uma vez? Se você quer resolver as coisas, por que não joga as cartas na mesa para uma conversa a fim de chegar a uma saída? Isso de dar espaço não resolve nada. Os problemas apenas vão ficar esperando uma solução que vem de uma atitude, não de um tempo. Não nesse caso. Aqui não tem valor a crença de que o tempo é o melhor remédio de todos os tempos. Mas confesso que já passei pela situação de pedir um tempo, e depois de me arrepender, e aí de dar um tempo mesmo assim, e de por fim terminar. Então, o mito do tempo nas relações tem duas funções: ou a de acabar com o namoro, ou a de acarretar num bate-volta infinito. Aquele casal que em uma semana está bem e em outra não está mais, e assim vai, como se fosse um iô iô viciado ou um jogo de Pinball no qual o jogador não faz a menor ideia do que está fazendo. Porque é isso, dar um tempo é um sinal de que não se tem noção do que fazer, de que não se sabe para que lado ir. Só que a resposta não cai do teto do seu quarto enquanto você deita no seu travesseiro pesado de consciência mal resolvida.

O que me ocorre agora é uma conclusão bastante triste. Nós, alguns mesmo sabendo da ineficácia do tempo nas relações, continuamos a cometer esse erro. É uma perda de tempo. Poderíamos simplesmente dialogar sobre o que nos incomoda. É preciso maturidade para compreender, mas um relacionamento bom funciona à base não só de sexo ou amor. Funcionada à base de diálogo, papo reto, olho no olho. Ou, se o caso for outro, poderíamos simplesmente romper. Eu juro que não dói mais do que ficar empurrando com a barriga, além de ser mais corajoso do que procrastinar a obrigação que se deveria ter de dizer à pessoa que você não está mais a fim. Dar um tempo quando se quer terminar o namoro é a coisa mais absurda. Você não está dando um tempo para a pessoa sofrer menos e nem para você se acostumar. Você só está sendo filho da puta e covarde. E aí, quando estamos solteiros, não queremos estar sozinhos. Mas a questão é justamente essa: por que num relacionamento damos um tempo e solteiros ficamos em busca de pessoas para preencher a falta?

Deveríamos é dar um tempo para nós. Tá tudo errado. Queria saber quem inventou esse sentimento de repúdio à solidão. Estamos dando tempo para as coisas erradas, invertendo prioridades e nos relacionando, honestamente, muito mal. Com o outros, com nós mesmos. Nas relações, embora seja equivocado, dar um tempo significa fugir, e isso funciona até certo ponto. Mas quando é com a gente, quando somos nós sozinhos, dar um tempo é impossível. Como se foge de si mesmo? Dê um tempo para si, não de si. Quando colocar a cabeça no travesseiro, deite sobre quantas horas forem necessárias para pensar em tudo o que for necessário. Re-exista. Esse é o tempo de que precisamos nos dispor.