Sobre suas demoras
Antony Bou
Noite passada não foi diferente. Meu sono vinha e eu o expulsava, vinha e eu o expulsava. A conversa estava boa e, de dez em dez minutos, as horas dormiram de madrugada no meu travesseiro. Até que você demorou a responder. Cinco, onze, dezessete minutos e eu boba de ver o quão obsessiva fiquei nesse papel de marcar o tempo. E essas suas demoras corriqueiras e desnecessárias me obrigavam a dormir mal e acordar péssima ao checar o celular e ver que a minha mensagem continuava ignorada. Da última vez que saímos, não foi diferente de novo. Você demorou a chegar, bagunçou meus horários e me fez assistir a um filme pela metade. E quando eu te perguntei sobre nós, a demora estava lá outra vez, com o mesmo semblante de incerteza. Mas não me incomodei, porque quando eu te perguntei se você preferia couve ou beterraba, você não decidiu na hora também.
A sua falta de pressa me deixou desgostosa por muitas vezes, porque, impulsiva errante como sou, me vi desacelerada. E não é nesse ritmo que eu costumo me envolver. Não é com tantos esforços que poderiam ser poupados que eu costumo lidar. Só que, eu não sei por que, você gostava de me fazer esperar. E eu te esperava. Te esperava responder, te esperava escrever, te esperava chegar, te esperava partir, te esperava dizer, te esperava voltar, te esperava demorar. O tempo que lhe era conveniente. Essas esperas, no entanto, estavam ficando maiores do que meu corpo conseguia suportar e elas não paravam de se somar. Ontem, a espera era sugerir onde iríamos nos ver amanhã. Hoje, a espera seria por amanhã. Amanhã, a espera seria te esperar.
É um jeito absurdo de viver. As suas demoras sempre implicaram em desperdício de tempo. Eu precisava de uma boa noite de sono e de assistir a um filme inteiro, e, para isso, você devia pegar as suas coisas, colocar em malas pequenas, porque você mal teve tempo de esquecer suas roupas comigo, e partir com suas demoras. E você foi. Demorou, mas foi. Agora, mesmo que minhas esperas não se resumam mais a você, eu espero que você nunca mais volte.
- Mariana Sanches Moraes
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