Ficar com você é um pleonasmo
Jon
É desnecessário. Você chega com duas caixas de cerveja e um maço de cigarro para me persuadir a jogar conversa fora em vez de dormir. E eu, iludida pela ideia de que ficar é sempre melhor do que ir embora, deixo você entrar. Isso não me dispara o coração de tesão, nem me entedia a ponto de inventar uma desculpa para te dispensar. Só ficamos ali. Sentadas. Como se esperássemos por alguma espécie de reviravolta nisso tudo. Mas o que me parece, a cada minuto, é que milagres nunca farão visitas surpresas a nós e que, se depender da rotina, seremos sempre muito previsíveis.
Eu costumava me adaptar às pessoas e, com elas, aos acúmulos, aos excessos, às redundâncias. Colocava as sobras dentro do bolso, guardava no armário com a desculpa de que um dia eu as usaria, mas nunca me vesti delas. Com muitas pancadas na cabeça, entendi que não dava mais. Eu tinha que me livrar das repetições. E eu decidi que começaria por nós. Ficar com você é um pleonasmo. Honestamente, essa é a maneira mais eufêmica de dizer que você é a circunstância mais repetitiva e redundante que já me aconteceu. Você é um subir para cima que não me faz tocar as nuvens, é um descer para baixo que não me faz ter uma queda, é um entrar para dentro que não me invade, é um sair para fora que não me faz querer entrar outra vez. Você é desnecessária, mas, assim como o pleonasmo e as pessoas que insistem em usa-lo, é automático. Quando eu vejo, eu disse, eu fiz, eu deixei você entrar mais uma vez com as duas caixas de cerveja e o maço de cigarro. Monotonia.
Você é mais do que eu quero, mas não é o suficiente. Não acrescenta. Eu sei que você tem a melhor das intenções. Talvez você só queira intensificar as coisas. Mas, dentro desse contexto, desse relacionamento, você não passa de apenas uma expressão com palavras demais querendo significar a mesma coisa.
- Mariana Sanches Moraes
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