Desarmonia



Talvez seja apenas isso: eu aqui e você aí. Mas quantos pensamentos em você eu já não colecionei até entender que talvez seja apenas isso? Eu inteireza e você menos que metade. Demorei muitos foras para perceber sua indiferença. Sequestrei muito tempo para ser tempo livre. E você com um braço pra dentro e duas pernas pra fora. Mais pra lá do que pra cá. Mas eu ainda tenho em mim que essa vontade de você não me abandona tão cedo.

Foi como se meus olhos tivessem fotografado cada ângulo seu. Eu saberia dizer seus detalhes mais minuciosos se me perguntassem. Levo seus retratos comigo em cada canto. Não faz diferença onde eu estou, eles estão na minha cabeça, de qualquer jeito. Mas seria uma paz se eu não precisasse te carregar comigo toda vez que eu durmo e toda vez que eu acordo. Queria ser capaz de perder a lucidez só para te perder da mente. Me enlouquece a falta de reciprocidade que mora nessa nossa relação. Me faz ficar quieta demais, distante demais, sem graça demais.

E cansa. Querer quem não quer a gente cansa. Mas é um desgaste que não faz eu te querer menos. Do contrário as palavras não transbordariam da minha boca quando eu falo sobre você. A verdade é que consentir com as porradas da vida dói mais do que recebê-las. Dói aceitar que sou eu quem sente por dois. Dói fingir que está tudo bem. Dói abstrair um sentimento que teria tudo para florescer. E desestrutura, principalmente, saber que isso não vai mudar.

- Mariana Sanches Moraes

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