Aquilo que acontece todo ano


Por alguma razão que nunca me foi tomado por esclarecido, o calendário é recheado de datas comemorativas. Natal, Halloween, ano novo, páscoa, carnaval e feriados de dias de quase todos os graus de parentesco, menos do filho - depois de um tempo entendi o porquê. Alguns eu faço questão de comemorar sem economizar na empolgação, outros eu nem me recordo o dia da semana que cai. O que me incomoda profundamente é que essas datas tiveram seus significados originais castrados pela manipulação do consumismo e da propaganda. No natal, a briga é grande para saber quem presenteia mais. Se você não comprar uma blusa para a sua mãe nos Dias das Mães ou um tênis para o seu pai nos Dias dos Pais, há uma grande chance de você se sentir sobrecarregado pelos outros e talvez também pela sua própria consciência. Não dar presentes nessas datas específicas pode colocar o seu amor pelos seus pais em dúvida. Ou pela pessoa que está ficando um ano mais velha.

O aniversário costumava ser um dos meus dias festivos favoritos. Eu sabia que eu seria paparicada, que ganharia muitos presentes, que jantaria pizza e comeria bolo na sobremesa, e com direito ao hino de parabéns. Me lembro das festas surpresas e da minha expectativa que sempre atropelava a realidade. Era sempre melhor do que eu esperava. Mas, recentemente, sinto como se o aniversário me pesasse como uma guirlanda natalina. Eu não esperava que a sensação de efemeridade me atingisse tão cedo. Vinte anos de corpo, quarenta e sete de mente. Chega um momento em que as felicitações se tornam mesmices. Sempre as mesmas palavras, sempre as mesmas considerações. Questiono quantas daquelas pessoas do Facebook realmente me desejam sucesso. Isso a gente só deseja para quem a gente quer realmente bem. Sucesso é coisa séria. É uma daquelas coisas que a gente precisa desejar do fundo do âmago do coração. Me sinto mal pelos aniversários alheios também, porque são reconhecidos não pela importância, mas pela notificação de uma rede social. O parabéns é desejado por mensagem de texto, não pelo voz, pelo tato, pelo olhar.

Eu queria uma resposta para a simples pergunta sobre as comemorações de aniversários de criança serem mais valorizadas. Penso que essa dúvida eu ei de carregar comigo por um certo tempo. Mas me permito dizer que os adultos, assim como da vida, se cansam dos aniversários. Não veem mais como novidade e alguns passam a enxerga-los como feitores da velhice, processadores do tempo. O que eu desejo para mim e para vocês é mais criatividade. Presentear no dia do casamento ou do namoro é muito óbvio. Eu desejo que, se aniversário significa aquilo que se repete todo ano, façamos com que os presentes se repitam todo dia. Que prevaleçam os detalhes e que prevaleça a percepção sobre eles.

- Mariana Sanches Moraes

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