Nós desatados

Elisa Magnini

E tenho dito que, sobre nós desatados que somos, a saudade que eu deixo morar em mim é a que não cresce. Entre nós um dia amarrados, a nós resta apenas a distância. Eu cá, você lá. E nunca cruzando caminhos comuns. Depois de uns meses, um nó atado na minha garganta deu voz àquilo que eu não queria admitir. Senti sua falta. Mas eu não sei dizer como pode ser sentir falta de alguém com todo esse atraso. Senti como se fosse de data recente. Senti como se eu me desse dado conta tarde demais. Só que não dá para alimentar uma saudade sem matá-la às vezes. Ela para de crescer. Não deixa de existir nem fica miúda, fica apenas estagnada, sem estímulo, congelada.

E eu não sei se eu queria que fosse diferente. Por vezes sinto como se nós nunca tivéssemos existido, como se nós nunca tivéssemos estado enrolados. Mas aí me vem à lucidez a loucura que era gostar tanto. E então, foi real. Cada verso do poema que nós compomos e cada cadarço que nós entrelaçamos. E então, foi real. Vai continuar sendo, mas agora como saudade. E eu vou preservá-la, porque significou tanta coisa e porque eu imaginei tanta vida com você. Preservarei esse abstrato de momentos que é a saudade, até que um dia eu não me recorde mais o que aconteceu de verdade e o que eu só vivi na minha cabeça. E então, vira bagunça. Mas isso foi o que sempre fomos. Nós enroscados.

O que sobrou de nós foi eu, a minha mania de saudade e a minha falta de habilidade em lidar com ela. Eu não sei se algo de nós você levou. Mas, se levou, a parte que você carrega deve ser tão leve quanto a minha. Uma saudadezinha boa, daquela que não faz nós querermos voltar. Daquela que, no fundo, só serve para olhar para trás e dar um sorriso de canto. Porque, entre nós, desatados, desajustados, distanciados, o hiato será sempre uma saudade que não cresce.

- Mariana Sanches Moraes

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