Não há nada que possamos fazer com o amor que nos invade
Não há nada que possamos fazer com o tesão que nos invade. A vulnerabilidade mora aqui, nesse lençol amarrotado. E eu estou em casa, enfim. Os nossos corpos não sossegam com o coração batendo, querendo sair para dizer que aceleraria outra vez. E nunca é a mesma coisa. O igual não impressiona nossos olhos, nem saliva nossa boca. A graça está nesse nosso balancê de cada dia, nesse nosso encaixe de cada abraço, nessa nossa risada de cada besteira. A ninguém interessa as molduras que retratam a falta que você me faz quando me dá o último beijo, então, não olhe para os outros olhares. Eu quero seus olhos delineando a curva da minha cintura, passando pela minha barriga e permanecendo nos meus seios. Eu quero minha nuca envolvendo seus lábios, seus dedos entrelaçados no meu cabelo e sua respiração ofegante respirando meu corpo. É essa sede de você que me faz ficar.
Não há nada que possamos fazer com o amor que nos invade. A descrença das paixões alheias me abandona. Eu não acredito que estou prestes a colocar em palavras o que eu já havia colocado em gestos. Mas, a alguns estímulos a pele responde melhor do que a boca. Algumas coisas ficam nas nuvens, em algum lugar do universo, se transformando em concretude ou abstraindo-se ainda mais pro espaço. Essas coisas, sobre as quais eu digo a você aqui e agora, não são providas de verbalização. Só que, poetisa teimosa que sou, continuarei a gastar o grafite do lápis e a digitar e apagar num eterno descontentamento, esperando algum verso expressivo o bastante. Como quem não deseja interromper o que vem, eu apenas sinto.
Não há nada que possamos fazer com a saudade que nos invade. Saudade é falta preenchida de vontade acumulada. Você vai e eu sinto saudade quando você ainda está. Isso é uma espécie de subversão de sentidos. E eu permaneço com você no tato e no abstrato, no autêntico e no caricato, no habitual e no novo. Permaneço pela essência de compreender, sobretudo, que os esforços não são esforços e que os empenhos são um prazer. É como escreveram em algum lugar, a gente gosta de alguém não por causa de, mas apesar de. E dentro da minha saudade moram seus mais singelos modos de ser, assim como seus mais sinuosos encantos disfarçados de defeitos.
- Mariana Sanches Moraes
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