Eu te espero quanto tempo for, mas não demore – sobre amores impacientes



Fast-food, visualiza-não responde, vamos-não posso mais, horário de verão, Google, 200km/h, sexo sem preliminar e eu te amo no segundo encontro. Já li que um dia na terra, aproximadamente, durava dez horas. O mundo desacelerando para que no período de uma manhã, uma tarde e uma noite, a gente consiga fazer tudo, e  ainda falta hora. Nós, por outro lado, acelerando, enfiando atividades num tempo que não suporta, como num cesto com excesso de roupa pra lavar. E ninguém realmente lava. Essa etapa fica nos ares quando se trata de pessoas que não fazem nada além. E mesmo as que fazem, tem de esperar a roupa ser molhada, ensaboada, lavada, enxaguada e secada, ainda que tudo isso seja feito por uma máquina, mais rápida que as mãos. Esta foi uma dádiva a qual fomos ensinados a desaprender e a negligenciar: a espera.

O combo leva seis minutos para ficar pronto, o seu pé já começa a involuntariamente bater no chão. A pessoinha demorou duas horas para responder, seus dedos já começam a coçar no teclado. O encontro das sete tá marcado, você manda mensagem às seis e meia dizendo que não pode mais. A era da desistência exibe o quanto temos medo de investir tempo e empenho nas coisas, e, sobretudo, nas pessoas. Eu te espero quanto tempo for, mas não demore, porque eu não quero ser feita de trouxa. Não demore porque eu não vou ficar aqui sentada no aguardo seu para sempre. Não demore porque tem muita carne para provar e eu estou perdendo tempo com você. Quando a justificativa mais fidedigna e mais coerente deveria ser que eu te espero quanto tempo for, mas não demore, porque eu quero te ver logo. Não demore porque eu quero ganhar mais tempo com você. Não demore porque o pôr do sol tá aí e eu quero te mostrar o quão incrivelmente lindo ele é do meu terraço. Eu te espero porque eu disse que esperaria. Então, espere. Espere ver no que vai dar, quanto tempo ele fica na tua cabeça, se ela responde o “vamos nos ver hoje” com um “não posso agora, mas amanhã me encontra na frente no café”, se ele te olha como se fosse excitante e inocente estar com você, mas saiba esperar, também, quando nada disso acontecer. Não espere pela pessoa que não vale a investida, espere pela oportunidade de esperar por alguém outra vez. Ninguém aqui tá dizendo que esperar é perder tempo, isso se chama perda de tempo mesmo. Esperar é saber que a tua hora é diferente da hora do outro e estar disposto a aguardar a hora dos dois.

E embora você já não esteja nesta posição de esperar, saiba que a roupa precisa ser lavada, o esforço precisa ser valorizado e a paciência precisa existir. Amores modernos surgem, se amam, e se vão. É o que poetisas como eu escrevem. Mas estes não podem ser considerados amores. Eles não permanecem. No amor, as coisas permanecem. Mesmo que por curtos dias de verão, a nobreza do amor acontece no infinito intervalo entre o começo e o fim, entre o 0 e o 1. Isso significa que dá muito pra esperar. Na pressa, poucas coisas devem ser consideradas. Não é a toa que fast-food causa hipertensão e ansiedade é o mau do século.


- Mariana Sanches Moraes

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