Tudo depende



Se você me perguntar se eu vou gostar que você fuja comigo, eu sei que você não suporta mais me escutar dizer isso, mas depende. Eu vou gostar de ir com a sua companhia, mas sem ela eu também vou saber aproveitar a minha fuga. Quando eu estiver pela estrada, vou poder fazer de Bon Iver minha trilha sonora, deixar as janelas com frestas abertas, ocupar o banco de passageiro com minhas bolsas, o carro ficará mais leve, e eu pararei menos pelo caminho, em busca de um sanitário decente. Não vou precisar pagar mais caro por um quarto de hotel, e nem vou me preocupar em tomar um café da manhã saudável. Há muitas razões boas para eu deixar você para trás, porque tudo depende.

A vida ensina a gente que nada pode ser mensurado. Se algo é ruim, então só pode ser ruim. Se algo é bom, então só pode ser bom. Mas, e quanto aos avanços tecnológicos que foram ocasionados pela Segunda Guerra? E quanto às mortes que dão origem a doações de órgãos para os que ainda têm chance de viver? E quanto aos erros que cometemos, que nos elevam diante de futuras situações? Há sempre um novo ângulo ansioso para ser visto, uma nova perspectiva que parece quase invisível aos olhos dos que vivem no piloto automático. Talvez a teoria da relatividade se trata também de como cada um percebe o que lhe acontece, de como cada um recebe o que chega a si. Vai saber o que se passava pela cabeça de Einstein.

E esse mundo, essa natureza que não me parece normal do ser humano de querer ser 8 ou 80, me deu vontade de fugir. Eu te convido a vir comigo, porque eu gosto do seu cabelo e da maneira como ele se aconchega sobre seus ombros, gosto de como cada sobrancelha sua tem um formato, mesmo que pareçam iguais, gosto da sua calça de um botão só e das suas mãos que ficam mais macias no frio. E, embora você tenha as suas particularidades que não me apetecem, eu prefiro ficar com os motivos pelos quais eu me desmontei quando te vi. Sem você eu também vou saber aproveitar a minha fuga, mas a questão é que eu te quero escolhendo as músicas no carro, deixando o ar condicionado ligado e ocupando o banco de passageiro. As minhas bolsas podem ficar no porta malas. Mas a questão é que eu prefiro que você venha comigo. Eu te quero por perto por todas as delícias de ser eu com você. Você vem?



- Mariana Sanches Moraes

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