Um encontro no parreiral
Boa noite, caro Leitor, antes de começar esta conversa, gostaria de te convidar a pegar uma xícara/copo da tua bebida favorita, chá, café, cerveja, whisky, te sinta a vontade. Te senta em um local confortável e dê uma respirada funda. Começo esta conversa com uma pergunta: Se tu soubesse a data da tua morte, o que tu faria? Reflita antes de continuarmos a nossa conversa. Agora que tu já respondeu, te pergunto se tu ficaria feliz ou triste em saber? Ao passo que tu poderia planejar tudo até a tua morte, tu também poderia entrar em choque por não saber se vais aproveitar a vida ou fazer de tudo para prolongar a morte.
Agora feche os olhos, imagine uma situação, tu, com 8 anos de idade, na casa de praia com teus avós, são mais ou menos 10h30, tua avó está preparando o almoço para a família, teu avô está preparando um aperitivo de martini com gelo. Todos estão felizes, está sol lá fora, teu avô coloca um disco do Leonel Gomez para curtir com o aperitivo, teus pais foram caminhar na praia, e tu estás sentado no sofá com teus primos tentando zerar Sonic num videogame 16bit. Então tua avó te chama para provar o ponto do sal da carne de panela, ela te passa a colher, alerta sobre assoprar antes de levar à boca, te dá um sorriso e te pergunta se quer gelatina de sobremesa, tu, empolgado com a ideia, apóia gesticulando ‘sim’ com a cabeça. Tu volta para o sofá com teus primos e então tu abre os olhos, nos dias atuais, e recorda uma memória que até fechar os olhos não estava tão viva, então tu te questiona “e se eu soubesse naquela época a data de morte deles, será que eles gostariam de saber?” “Será que eles se cuidariam mais, ou não se prenderiam a tantos cuidados? Ou aproveitariam mais? Curtiriam mais a fundo cada momento como se fosse o último, como diz a música “Construção”, “amou daquela vez como se fosse a última”? Ou será que TU, caro Leitor, aproveitaria mais cada momento com eles como se fosse o último? Novamente, reflita antes de continuarmos a nossa conversa.
Agora que tu já refletiu sobre estes questionamentos, gostaria de te convidar a, ao invés de imaginar esta situação, reviver as TUAS memórias. Vamos lá, feche os olhos, lembre de um momento, coloque uma música que te inspire o momento, busque sentir cada detalhe, cheiros, toques, visões, aproveite ao máximo, e te pergunte novamente se tu falaria aos teus entes queridos a data das respectivas mortes?
Hoje, eu, caro Leitor, fiz tudo isso que falei para tu fazer, aliás, estou fazendo neste momento. Estou tomando um copo de cerveja, numa cadeira confortável ouvindo “La Enramada”, lembrando do cheiro do sabonete de glicerina do meu avô, do cheiro do aperitivo de martini, do cheiro da carne de panela, do creme corporal de ameixas da minha avó, do sorriso de cada um deles, das conversas, dos carteados noturnos, dos mates matutinos e da felicidade ao me ver sorrir. Agora lhe digo que não sei se eu falaria a data da morte à eles. Por isso converso contigo, compartilho a minha angústia, por não saber o que seria mais benéfico, ou menos maléfico. Mudaria alguma coisa, caro Leitor? Eu poderia sentí-los por mais algumas vezes? Ou só faria-os sofrer? Gostaria que tu levasse em tuas retinas estas memórias e, se puder, viva-as sempre que puder.
Caro Leitor, agradeço pela oportunidade de ter esta conversa, espero que tu passe bem e se tudo der certo, nos encontramos em outro momento.
Um abraço,
Eduardo Teixeira Heyder
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