Você está livre hoje?
Você está livre hoje para ler essa crônica?
Há mais ou menos um ano, tive a oportunidade de conhecer a cidade mais caótica do Brasil, São Paulo. Ansiava muito conhecer o Teatro Municipal e, digo com toda propriedade, vale a pena. Já o outro lado da capital paulista é justamente o contrário: calçadas imundas com cheiro de número 1 - e, se tiver azar, até do 2 -, sacos abertos com lixo espalhado, trânsito que não se cala e uma correria e gritaria constantes de vendedores ambulantes. Tantos falando ao mesmo tempo que era difícil entender o que cada um vendia, mas uma conversa entre alguns deles me chamou atenção. Um disse ao outro que "tempo é dinheiro", com uma intenção voraz de vender tudo o que tinha consigo ali, e ligeiramente. Essa não foi a primeira vez que ouvi isso, lógico. Mas foi naquele momento que pensei "dinheiro é pouco para definir tempo". E também "São Paulo é a cidade dos zumbis".
Em economia, mesmo com uma dificuldade absurda de entender a oferta, demanda e preços, eu aprendi que a mão de obra e a moeda são escassas. Que nossas necessidades são sempre maiores do que nossos recursos. Mas quando penso sobre a escassez, em sua significância mais intrínseca, me ocorre que sua ideia é quase toda sobre o tempo. Já pensou em quantas vezes você desejou que o dia tivesse 36 horas para que conseguisse fazer tudo que precisa e quer? Ou só o que precisa. Quantas vezes já tentou remarcar aquela saída que nunca acontece? Ou então, quantas vezes já teve de fazer tudo pela metade para, assim, poder fazer tudo? Situações inúmeras para a mesma resposta: Não deu tempo. Não sobrou tempo. Não tive tempo. Mas tempo não se dá, se consome. Não sobra, falta. Não se tem, se vive nele. Ou dele. E, embora o tempo seja recurso escasso, cujo adjetivo atribuído sabemos bem, não me parece que consigamos gerenciá-lo. E, se conseguimos, não fazemos da maneira como gostaríamos.
Tempo não é só dinheiro. Tempo é escasso. Dinheiro a gente investe, mas também perde e ganha. E o tempo está além do nosso controle, não se pode ganhar e nem perder, apenas investir - e esse é o maior investimento que se pode fazer. É importante pensar sobre como você está usando seu tempo, e eu espero que com a maioria dele, seja com algo de que se orgulha. Porque, para a nossa falta de sorte, não migramos de universos paralelos em universos paralelos como nos filmes de ficção científica, onde existe a condição de voltar antes da merda ser feita - embora não fosse má ideia, - e as nossas pequenas decisões nos guiam para um caminho sem retorno. Seja qual direção for, você e eu estamos em uma corda bamba chamada linha do tempo, onde cada passo precisa ser bem aproveitado. Eu espero que o vendedor ambulante paulista esteja certo de que aproveita todo seu tempo vendendo suas mercadorias tão bem quanto a quantia de dinheiro que recebe. Se para ele tempo é isso, ele tem que ter foco. Qual é o seu foco? Qual vivência você quer como foco e o quanto ela ocupa da sua escala de tempo?
O tempo obriga a gente a fazer escolhas. São os tais custos de oportunidade. Sempre estamos perdendo alguma coisa, deixando de viver um momento porque escolhemos viver outro. Nesse ponto, a física poderia ter jogado a nosso favor, mas já que não o fez, não podemos viver dois momentos diferentes num mesmo intervalo de tempo. É uma pena, só que uma pena maior ainda é você, depois de ler isso, abrir seu Instagram e ficar a noite toda vendo como vida alheia lhe parece melhor que a sua e não escolhendo vivê-la de fato. Você está livre hoje? Quais são as suas escolhas a partir daqui? Talvez não sejam mais as mesmas de antes. Não deixe os segundos escorrerem pelos seus dedos. Tome alguma atitude para gerenciar seu tempo, do contrário, a surpresa de como o ano passou rápido e você não fez nada vai continuar sendo grande.
Comentários
Postar um comentário